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O Preço da Gasolina

Quando me perguntam sobre os parâmetros que realmente afetam o preço da gasolina ao longo do tempo, tenho a resposta direta: taxa de câmbio. Isso mesmo! A taxa de câmbio (R$/US$) é a nossa principal referência para o valor que o consumidor brasileiro paga nas bombas. Mas qual é a relação, então? Como referência, 1 litro de gasolina nos postos de combustíveis, nas principais capitais do Brasil, é de aproximadamente 90% a 110% sobre o valor da taxa câmbio em relação à USD 1 dólar norte-americano. Se o barril do petróleo estiver abaixo de US$ 50, a relação 90% fica mais evidente. Se o preço do barril estiver acima desse valor, então 110% torna-se o parâmetro de referência.

Exemplos para nossa análise:

Entre os meses de agosto e dezembro de 2015, com o preço do barril a cerca de US$ 45,00, a taxa de câmbio média foi de R$ 3,72 por dólar. Nesse mesmo período, segundo a ANP, o preço médio do litro da gasolina em Curitiba foi de R$ 3,35. Dividindo 3,35/3,72, resulta que o preço médio da gasolina ficou cerca de 90% do valor do dólar.

Analisando essa relação em nível nacional, tem-se que, durante o primeiro semestre de 2019, com o preço do barril a US$ 60,00 e com a nova política de preços da Petrobras, o preço médio da gasolina no Brasil ficou em R$ 4,32, e a taxa de câmbio em R$ 3,88 – uma relação de 110%, calculada pela divisão da gasolina sobre o dólar (4,32/3,88).

Então, o que devemos esperar para este ano de 2021 quanto à dinâmica de preços da gasolina?

Mantendo a política internacional de reajuste de preços e o barril de petróleo sendo negociado a US$ 60,00, devemos esperar novos aumentos no preço da gasolina. Nossa taxa de câmbio esperada e observada está em torno de R$ 5,10 e, utilizando um fator de 110%, o preço da gasolina de equilíbrio de longo prazo será então de R$ 5,610. 

Inflação dos Alimentos no Cenário Atual

A inflação do mês de setembro, no valor de 0,64%, ficou acima das expectativas. Em 12 meses, o IPCA acumulou uma alta de 3,14% e, no ano, 1,34%. O grupo que mais influenciou esse aumento foi alimentação no domicílio, com uma valorização de 9,17% no ano. A forte demanda internacional por commodities, em especial alimentos, vem pressionando alguns itens essenciais no consumo das famílias. A tabela a seguir destaca que óleo de soja (+51,29%), arroz (+40,67%), feijão (+34,48%) e leite longa vida (+30,39%) tiveram aumentos expressivos. Em paralelo, as exportações físicas de alimentos no acumulado de janeiro a setembro de 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior, aumentaram significativamente, com arroz sem casca (+28,1%), soja (+30,3%), leite, creme de leite e laticínios (+24,1%). De fato, o avanço das exportações físicas e a forte valorização do dólar ampliaram o repasse de preços desses itens ao consumidor final, mesmo em um ambiente de recessão econômica.

Fontes: IBGE e Secretaria do Comércio Exterior.

Outra fonte de inflação preocupante para os índices de preços são os bens industriais, principalmente em virtude da valorização do minério de ferro no mercado internacional. As exportações de ferro-gusa, pó de ferro ou aço e ferro-ligas aumentaram em 32,7% entre janeiro a setembro de 2020 em relação ao mesmo período do ano anterior. A falta de insumos na área industrial e embalagens estão dificultando a retomada da atividade produtiva. Contudo, em nosso cenário de referência esse choque é temporário, mas entender e acompanhar sua evolução é fundamental. Cabe destacar que maiores riscos inflacionários derivados de novas depreciações no Real podem alimentar o processo de reajustes de preços e prejudicar a manutenção da taxa de juros em patamares historicamente baixos. Dessa forma, a manutenção de uma Selic em níveis de aproximadamente 2,0% ao ano pode estar ameaçada caso ocorra uma contaminação da atual pressão de preços nas expectativas de inflação de longo prazo.

O gráfico a seguir descreve o forte aumento nas expectativas de inflação para o final de 2020 e sua influência na dinâmica do mercado de juros futuros DI, em especial nos contratos com vencimento em janeiro de 2023. Torna-se fundamental acompanhar e analisar os impactos de uma inflação maior no curto prazo na curva de juros futuros, pois uma maior pressão nos preços domésticos, aliada a uma taxa de câmbio desvalorizada, pode pressionar os juros de nossa economia gerando um maior desafio para o processo de reequilíbrio das contas públicas a partir de 2021.


Fontes: B3 e Focus/BCB.

A boca de jacaré e a economia em 2019

O gráfico que simula a boca de um jacaré é um fenômeno raro na economia e pode ser um sinal positivo para a retomada do crescimento no Brasil. Explicamos: essa realidade ocorre quando a taxa de juros baixa e o câmbio aumenta. Correndo em posições contrárias, esses dois indicadores criam condições positivas para o cenário previsto para 2019.

Fontes: Mercado de Derivativos, BM&F Bovespa, BCB e Valuup Consultoria.

Essa combinação não é algo comum na economia, normalmente as duas taxas caminham juntas, se uma aumenta a outra aumenta também.

A diminuição dos juros será muito positiva para a retomada de consumo da economia doméstica, que fará a roda girar novamente, mesmo que de forma lenta. É preciso facilitar o poder de compra da população que está acuada em contrair novas dívidas. Os juros mais baixos também viabilizam maior investimento em infraestrutura que dependem de financiamentos a longo prazo, logo, juros de menor valor deixarão os projetos mais baratos.

Por outro lado, o câmbio alto colabora com as exportações, fator importante para o setor produtivo brasileiro, que é diretamente impactado pelo agronegócio. Grãos, carnes e outras commodities dependem do câmbio para valorização dos produtos.

Esses dois indicadores caminhando em direções contrárias darão condições pra um crescimento lento, no entanto progressivo da nossa economia. Mas ainda há algo para ter atenção, o desemprego, se tem algo que ainda deixa uma pulga atrás da orelha é esse índice. São 13 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho, isso significa 12% da população.

Grande parte desse cenário é resultado de um 2018 muito difícil, todos os setores da economia sangraram com as inseguranças políticas o com a greve dos caminhoneiros. Por isso se pensa em um cenário muito mais estável politicamente e promissor no mercado, é o que todos desejamos para 2019.