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Política Monetária do Banco Central dos EUA

Uma das principais questões no debate econômico atual está diretamente ligada aos próximos passos do Fed (Banco Central dos EUA). Quando o Fed irá reduzir seu programa de compras de títulos públicos? O excesso de liquidez (moeda) poderá gerar pressões inflacionárias persistentes? Para responder essas questões, precisamos entender como a pandemia afetou o comportamento dos consumidores e o que devemos esperar com o avanço da vacinação.

A pandemia trouxe um nível de incerteza econômico elevadíssimo. Os agentes econômicos realizaram seus movimentos de proteção, vendendo ativos de risco e demandando moeda precaucional. O excesso de poupança, aliado à queda na velocidade de circulação da moeda, tornou possível o aumento significativo da liquidez internacional, sem gerar pressões persistentes sobre a inflação. O Gráfico 1 descreve um comportamento nunca visto em toda a história recente do capitalismo: um nível de taxa de poupança das famílias acima de 15% de sua renda pessoal disponível. Um aumento realmente sem precedentes da poupança precaucional, aliado aos generosos programas de transferências governamentais, e um mercado de crédito desaquecido. Em março de 2020, quando a economia mundial parou, a taxa de poupança registrou uma marca de 33,7%, fazendo com que a velocidade de circulação da moeda (M2) caísse de 1,38 no primeiro trimestre para 1,10 no período seguinte, e assim permanecesse.

Taxa de Poupança Pessoal e Velocidade de Circulação da Moeda (M2), EUA: 2019/1T a 2021/1T

Fontes: U.S. Bureau of Economic Analysis (BEA) e Federal Reserve Bank of St. Louis.
Nota: Poupança pessoal em porcentagem da renda pessoal disponível, média do trimestre.

Com uma queda tão expressiva das transações econômicas em valores nominais, a relação direta entre oferta de moeda e preços não é mais observada. Por esse motivo, a forte expansão monetária de 23% anualizada desde abril de 2020 até o mesmo mês de 2021 não gerou uma inflação descontrolada. A inflação ao consumidor em abril foi de 0,8% e, em 12 meses, está em 4,2%. Considerando o núcleo do CPI (excluindo alimentação e energia), a inflação em abril foi de 0,9% e, em 12 meses, de 3,0%.

De fato, a expansão de liquidez afetou mais diretamente preços de ativos financeiros e reais. Entretanto, no momento em que a economia voltar à sua atividade normal, com menores restrições de mobilidade social, o consumo e o crédito vão voltar a crescer. A taxa de poupança irá diminuir, e a velocidade de circulação da moeda aumentar. E, com essa expansão de liquidez anualizada de 23% do Fed, poderá haver pressões inflacionárias severas na economia. Ou seja, o Fed tem como desafio começar a realinhar sua política monetária, via redução de compra de títulos públicos (tapering), para ajustar um crescimento da oferta de moeda às novas condições da economia e ao comportamento do consumidor. Teremos como efeito direto um aumento nos juros de longo prazo, os treasuries norte-americanos.

Juros de 10 anos nos EUA: uma taxa livre de risco menor.

Uma das variáveis mais importantes para determinar a taxa de desconto dos fluxos projetados decorrentes de um estudo de valor (Valuation) consiste em determinar a taxa de juros de longo prazo de um título soberano, sem risco de default. O mais utilizado é o título público norte-americano de 10 anos, o T-Bond 10Y.

No ano de 2020, em virtude da pandemia, a taxa de juros de longo prazo caiu de 1,80% em janeiro para 0,60% em março, fechando o ano em 0,93%. A preocupação com os fatores recessivos e as incertezas em relação à consolidação da retomada da atividade produtiva mantiveram os juros em patamares historicamente baixos conforme demonstrado no gráfico.

Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis.

Com a retomada mais forte da economia mundial e dos EUA, os preços das commodities foram pressionados e os juros, no início de 2021, subiram para 1,30%. Por exemplo, o preço do barril de petróleo (WTI) subiu de US$ 47 para US$ 60. É muito provável que os preços internacionais dos minérios, grãos, energia e alimentos continuem fortes. Esse fato se deve ao estímulo extremamente significativo do Fed (Banco Central dos EUA) ao avanço das campanhas de vacinação e à promessa de um pacote fiscal de cerca de US$ 1,9 trilhão.

Em outras palavras, com a retomada do mercado de trabalho norte-americano e uma pressão de preços de commodities, a taxa de juros de longo prazo tende a se normalizar a um patamar de equilíbrio sustentável. Esse valor tende a ser mais próximo de 2,0% ao ano; mas, provavelmente, apenas no final do ano de 2022. De fato, mais dois anos de juros baixos. Nesse sentido, os estudos de valores poderão se beneficiar de uma taxa de juros livre de risco, historicamente baixa, por um longo período.