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CEOs demonstram otimismo em relação à economia em pesquisa

Apesar de extremamente preocupados com incertezas políticas e tributárias, os CEOs estão otimistas em relação ao futuro da empresa e da economia

A PwC anualmente promove uma pesquisa com CEOs no Brasil e no mundo, sendo divulgada em março de 2021 sua 24ª edição. É bastante curioso saber a visão desses líderes após 1 ano de pandemia, e a conclusão foi que o brasileiro é um otimista por natureza.

Isso porque 85% dos CEOs brasileiros apresentam um altíssimo nível de confiança na melhora da economia global em 12 meses, sendo o maior patamar dos últimos 10 anos. Tal otimismo se estende para dentro das empresas, onde 67% confiam em um crescimento da organização em 3 anos, o que contrasta com os demais CEOs do mundo em que apenas 47% destes acreditam em um crescimento em 3 anos.

O otimismo dos CEOs, segundo a pesquisa, gera 3 reflexos:

1º) Contratações: 48% estimam um aumento moderado (3 – 9%) nas contratações nos próximos 12 meses. Já 14% estimam um aumento forte (10% ou mais).

2º) Foco: mesmo em menor magnitude do que no ano passado, os três focos dos líderes das empresas continuam sendo eficiência operacional, crescimento orgânico e lançamento de produtos ou serviços, como estratégia para 2021. Todos com foco interno para o cliente. 

O aspecto de mercado, como alianças estratégicas, parcerias ou venda de uma empresa, perdeu força de 2020 para 2021.

3º) Incertezas: 56% dos CEOs têm alto nível de preocupação com as incertezas tributárias, incertezas de pandemias e crises sanitárias (56%), também em relação a políticas (53%), ao aumento das obrigações tributárias (51%), ao crescimento econômico incerto (49%).

Quando se perguntou quanto ao “nível de preocupação com ameaças comerciais, econômicas, políticas, sociais e ambientais para o crescimento da empresa”, apareceram no top 5, exposto no gráfico anterior, a temores e incertezas políticas – enquanto no mundo, pautas como ameaças cibernéticas ganham força.

A partir de todo receio quanto à questão tributária e política no Brasil, quando se questionou sobre o “efeito das mudanças na política tributária para lidar com o aumento da dívida governamental”, chegou-se ao seguinte: 

87% dos CEOs concordam ou concordam plenamente com a afirmação: “Levarão minha empresa a repensar sua estrutura de custos.” Além disso, 73% concordam ou concordam plenamente com a afirmação: “Aumentarão a obrigação tributária total da minha empresa”. Ou seja, os líderes esperam fortemente que as incertezas e inseguranças políticas levem a um impacto no aumento das obrigações tributárias e, consequentemente, na necessidade Ou, as inseguranças políticas “levam à necessidade” da revisão do planejamento e da estrutura de custos.  

O dualismo encontrado na pesquisa é que, apesar de toda incerteza e temor político e econômico, os CEOs são otimistas quanto ao futuro da empresa e da economia, o que nos leva a crer que todo ceticismo é deixado de lado, e o empresário brasileiro é, de fato, um otimista por natureza.

Fonte: https://www.pwc.com.br/ceosurvey

Juros de 10 anos nos EUA: uma taxa livre de risco menor.

Uma das variáveis mais importantes para determinar a taxa de desconto dos fluxos projetados decorrentes de um estudo de valor (Valuation) consiste em determinar a taxa de juros de longo prazo de um título soberano, sem risco de default. O mais utilizado é o título público norte-americano de 10 anos, o T-Bond 10Y.

No ano de 2020, em virtude da pandemia, a taxa de juros de longo prazo caiu de 1,80% em janeiro para 0,60% em março, fechando o ano em 0,93%. A preocupação com os fatores recessivos e as incertezas em relação à consolidação da retomada da atividade produtiva mantiveram os juros em patamares historicamente baixos conforme demonstrado no gráfico.

Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis.

Com a retomada mais forte da economia mundial e dos EUA, os preços das commodities foram pressionados e os juros, no início de 2021, subiram para 1,30%. Por exemplo, o preço do barril de petróleo (WTI) subiu de US$ 47 para US$ 60. É muito provável que os preços internacionais dos minérios, grãos, energia e alimentos continuem fortes. Esse fato se deve ao estímulo extremamente significativo do Fed (Banco Central dos EUA) ao avanço das campanhas de vacinação e à promessa de um pacote fiscal de cerca de US$ 1,9 trilhão.

Em outras palavras, com a retomada do mercado de trabalho norte-americano e uma pressão de preços de commodities, a taxa de juros de longo prazo tende a se normalizar a um patamar de equilíbrio sustentável. Esse valor tende a ser mais próximo de 2,0% ao ano; mas, provavelmente, apenas no final do ano de 2022. De fato, mais dois anos de juros baixos. Nesse sentido, os estudos de valores poderão se beneficiar de uma taxa de juros livre de risco, historicamente baixa, por um longo período.

Perspectivas para a Economia Brasileira e Mundial: 2021

A sustentabilidade da recuperação da atividade econômica 

A economia mundial entrou em recessão severa no primeiro semestre de 2020. O distanciamento social, em virtude do avanço da pandemia, gerou quedas expressivas na atividade produtiva. O Gráfico 1 descreve o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) em países selecionados, tendo como base de referência o nível de atividade no 4º trimestre de 2019 (pré-Covid). Pelo fato de o início da pandemia ter ocorrido na China, sua economia sofreu de forma mais severa no 1º trimestre, recuperando-se surpreendentemente no período seguinte enquanto a economia global desabava. A retração econômica na Índia e no México foi de 25% e 17%, respectivamente, em apenas um trimestre. Nesse mesmo período, a economia brasileira seguiu a tendência dos EUA e Europa, com queda de cerca de 10% do PIB.


Fonte: OECD (2020), Quarterly GDP (indicator).

É importante destacar que a economia chinesa está um passo à frente dos movimentos econômicos da pandemia. E, apesar de ela ter subido exatamente no 2º trimestre, seu nível de atividade produtiva ficou relativamente estagnado no 3º trimestre. Durante o processo de recuperação, o Banco Popular da China identificou que as famílias, as quais sofreram com a perda da renda, terão uma maior propensão a poupar e, com isso, estão encontrando uma maior dificuldade para expandir o consumo das famílias e investimentos das empresas. Ou seja, uma recuperação mais plena da economia mundial dependerá, certamente, de novos estímulos econômicos, em especial o fiscal.

Essa recuperação dependerá do avanço de um amplo programa de vacinação aliado aos pacotes fiscais. O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, sinalizou para o avanço nessa estratégia. As discussões no Congresso e Senado dos EUA indicam, em uma etapa inicial, um pacote fiscal para o início de 2021 na ordem de US$ 908 bilhões. Seus recursos estariam direcionados para um Pacote de Proteção ao Salário (30%), seguro-desemprego adicional, incluindo US$ 300 semanais até março (20%), ajuda a governos estaduais (18%), distribuição de vacinas (2%), suporte às companhias aéreas (2%) e demais programas (28%).

Paralelamente ao pacote norte-americano, é fundamental acompanharmos a relação EUA-China no cenário internacional. Entendemos que uma ação conjunta das duas maiores economias pode ajudar na recuperação mundial. Em especial, nossa atenção está voltada para o anúncio de estímulos fiscais da economia chinesa quando o País passar a anunciar uma maior meta de déficit fiscal para 2021. Atualmente o déficit público está em cerca de 3,6% do PIB. Espera-se um anúncio de déficit para o próximo ano de pelo menos 1 ponto percentual do PIB. Apesar de o consumo e exportações terem apresentado forte recuperação no terceiro trimestre de 2020, há uma preocupação em relação aos investimentos em infraestrutura e manutenção na geração de emprego de qualidade para sustentar o consumo das famílias.

A tabela a seguir destaca as perspectivas de crescimento mundial do PIB para 2020 e 2021 conforme projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Um crescimento de 5,2% para a economia mundial em 2021, com destaque positivo para os mercados emergentes (6,0%).


Fonte: FMI, projeções de outubro.

Entretanto, mesmo com o avanço dos pacotes fiscais nos EUA e China, as perspectivas para nossa economia são de retomada mais moderada. Segundo o Relatório Focus, de 4 de dezembro de 2020, o mercado espera uma expansão do PIB de apenas 3,50%. Isto é, abaixo da retomada dos países emergentes. Cabe ressaltar que o atual processo inflacionário de alimentos tende a se dissipar ao longo do primeiro semestre de 2021, com uma taxa de câmbio mais próxima de R$ 5,00 por dólar. O IPCA deve ficar entre 3,40%, com uma maior pressão de preços administrados, em especial nos setores de energia, combustíveis, transportes públicos e saneamento.

A notícia boa é que nossa economia vai avançar em seu processo de recuperação, mas tudo indica que em um ritmo inferior aos dos países emergentes.

Preocupações com a Economia Mundial

A sustentabilidade da recuperação da atividade econômica

Após seis meses do início da pandemia, as principais economias mundiais começaram a indicar uma recuperação mais consistente de suas atividades produtivas. É certo que os países enfrentaram seus períodos mais críticos de contaminação de forma heterogênea. Alguns governos adotaram medidas mais rígidas, outros foram mais flexíveis em relação ao distanciamento social. Em termos econômicos, contudo, a recuperação mundial está ocorrendo de forma mais rápida do que se imaginava. No entanto, indicadores do mercado de trabalho mostram que a retomada está ocorrendo de forma desequilibrada.

Na China, por exemplo, o lado da oferta se recuperou muito rapidamente e acima das previsões iniciais, mas a próxima etapa da consolidação depende do lado da demanda, principalmente do consumo das famílias. O isolamento social causou grandes perdas de renda para muitas famílias de menor poder aquisitivo que não foram compensadas pelos pagamentos de auxílio governamental. Durante o processo de recuperação, essas famílias terão uma maior propensão a poupar, conforme identificado pelo Banco Popular da China, seu banco central. Esse movimento cria uma preocupação adicional, pois restabelecer o nível de demanda para sustentar a rápida recuperação da oferta poderá ser mais complicado. 

Durante a Grande Depressão dos anos 1930, o economista inglês John M. Keynes chamou atenção para esse problema, intitulando-o como o paradoxo da parcimônia. Pela lógica convencional, aprendemos com o tio Patinhas (personagem de Walt Disney) que o excesso de poupança ajuda no enriquecimento das famílias. É claro que poupar e investir bem é fundamental para o acúmulo de riqueza econômica e financeira; porém, movimentos agregados de excesso de poupança, no curto prazo, são recessivos. A preocupação do pensamento keynesiano baseia-se no argumento central de que, em períodos de incerteza, o excesso de poupança das famílias dificulta a retomada da economia. Nesse caso, a melhor maneira de restabelecer o nível de demanda e sustentar uma recuperação consistente passa, necessariamente, por um programa de estímulos governamentais, sustentando o nível de renda disponível das famílias.

O choque econômico do bloqueio da Covid-19 recaiu mais pesadamente sobre as famílias de baixa renda, na China e em outros lugares, tal como nos EUA. Embora os funcionários administrativos pudessem trabalhar em casa e se isolar dos efeitos diretos do bloqueio, dezenas de milhões de trabalhadores na indústria e no varejo perderam semanas ou meses de renda. As horas pagas para os trabalhadores chineses e norte-americanos caíram em um ritmo nunca visto antes consumindo suas economias. Portanto, a retomada da renda poderá gerar uma necessidade racional de restabelecer seus níveis de poupança pré-Covid. 

Os países desenvolvidos vêm relatando uma recuperação mais rápida no nível de vendas de produtos de luxo, eletrônicos, material de construção e automóveis. Em compensação, a recuperação nas compras de vestuário, alimentos e serviços básicos mostrou-se mais estagnada. Nos EUA, a renda pessoal disponível (salário + assistência do governo + seguro-desemprego) caiu 2,7% em setembro comparado a julho. Ademais, a recuperação do mercado de trabalho no terceiro trimestre mostrou perder fôlego, trazendo preocupações quanto ao avanço do consumo das famílias nos próximos trimestres.

Nesse sentido, uma das formas de restabelecer com maior rapidez o nível de consumo das famílias de baixa renda requer a adoção de uma política governamental focada na redução da taxa de desemprego da força de trabalho. Por isso, os estímulos do novo pacote fiscal do Governo dos EUA buscarão injetar US$ 2,2 trilhões, evitando uma piora no desempenho do mercado de trabalho. Ademais, uma política fiscal expansionista ajudará o Fed a evitar uma depressão ainda maior nos preços dos serviços. As discussões sobre o pacote fiscal ainda estão avançando na Câmara de Deputados e no Tesouro dos EUA.