Posts

Desequilíbrios do setor de transporte rodoviário no Brasil

Considerado um dos termômetros de produção e da saúde econômica, o desequilíbrio observado no mercado de transporte rodoviário foi um dos sintomas mais evidentes da recessão que assola o país desde 2014.

Se olharmos para o número de caminhões em circulação no país entre 2010 e 2017 é possível observar a estagnação e os problemas enfrentados pelo setor. Segundo os dados do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) em 2010 o número de veículos pesados rodando nas estradas brasileiras era de 1.485.225, sete anos a frota passou para 2.033.596 unidades, 37% de aumento. Mas há uma curva interessante a ser observada, o crescimento se deu até 2014, depois disso o número praticamente não mudou.

Figura 1 – Frota Circulante Efetiva no Brasil

Neste cenário temos o fim dos subsídios para compra de veículos novos, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do governo federal, de 2009 até 2016, teve como objetivo renovar a frota brasileira que estava se deteriorando. Somado a isso, a demanda reprimida a partir de 2014 desacelerou o mercado e estagnou o crescimento da atividade econômica.

Além do número de caminhões, a circulação desses veículos nos últimos anos denota claramente a queda no número de fretes, o que significa menos mercadorias circulando pelo país. Se analisarmos os números do Índice ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) é possível observar que mesmo com o aumento da frota houve uma redução do fluxo de veículos entre 2010 e 2014. Depois disso, somando o aumento da frota à crise econômica temos uma demanda reprimida que gerou um impacto negativo no setor.

Figura 2 – Fluxo de Veículos Pesados nas Rodovias no Brasil

Neste desarranjo econômico quem sente na pele são os empresários do setor de transporte que veem os preços dos fretes caírem vertiginosamente enquanto os custos aumentam. Mais caminhões (excesso de oferta), menos frete (diminuição da demanda), mais custo (preço do diesel), colapso do setor (descontrole do preço do frete): greve dos caminhoneiros.

A prova dessa baixa de preço foi apontada pela Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho), o valor médio do frete de grãos em 2016 era inferior ao praticado em 2010, com valores corrigidos pelo IGP-DI. Se comparar com 2013, um ano antes do início da crise, a redução foi de 17%.

Tudo isso sem entrar na questão do diesel, a maior pancada para as empresas. Além de outros custos como manutenção e pedágio que subiram acima dos reajustes do frete.

Não atoa a greve foi inevitável para brecar a descida sem freio que o setor não tinha mais condições de controlar.

Mas é verdade que o resultado da paralisação não tem sido positivo para ninguém. A economia sangrou duramente e ainda sente os efeitos como ondas de avalanche. O aumento do preço do frete depois da adequação da tabela não teve resultados positivos, a demanda continua reprimida e algumas empresas ponderam adquirir frota própria para economizar no frete, o que irá minguar ainda mais o setor.

A verdade é que a única solução para tudo isso é a retomada da economia brasileira, é preciso que o brasileiro volte a ter poder de consumo para girar essa engrenagem. Mais consumo, mais produção, mais circulação, mais caminhões nas estradas.

Postos de combustíveis curitibanos veem margens de lucro caírem

Depois de pouco mais de um ano, a política de preço da Petrobrás causa prejuízo para varejistas.

Os revendedores de combustíveis em Curitiba tiveram impacto direto na lucratividade depois da mudança na política de preço da Petrobras. De julho de 2017 a setembro de 2018 o preço da gasolina ao consumidor no Brasil subiu 27,4% e as margens caíram R$ 0,08 centavos. Em Curitiba, o ajuste foi de 26,6% e as margens diminuíram em R$ 0,12 centavos. No caso do diesel, no período analisado, o preço ao consumidor no Brasil subiu 15,5% e as margens caíram R$ 0,09 centavos. Em Curitiba, o ajuste foi de 22,2% e as margens diminuíram em R$ 0,17 centavos.

Nos dois casos, o mercado varejista de combustíveis de Curitiba foi o que mais sofreu com a nova política de preços da Petrobras, prejudicando de forma significativa o restabelecimento das margens. O gráfico 1 reforça esse argumento, destacando o desempenho reprimido das margens no município de Curitiba ao longo do período.

Gráfico 1 – Desempenho das Margens da Gasolina C: jul/2017 a set/2018.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Essa história começou quando a Petrobras implementou sua nova política de preços dos combustíveis: diesel e gasolina. A empresa informou que os reajustes iriam ocorrer com mais frequência, podendo ser até mesmo movimentos diários, respeitando uma margem de menos 7% a mais 7%.

O objetivo central da Petrobras consiste em buscar, no curto prazo, um maior alinhamento dos preços domésticos com os praticados no mercado internacional. Com isso, a empresa teria maior competitividade em seus preços para concorrer com os combustíveis importados.

Gráfico 2 – Índice de Preço dos Combustíveis, Brasil: jul/17 a set/18.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Valuup Consultoria e Petrobras.

Os preços médios divulgados pela Petrobras são referentes aos produtos tipo “A”, sem a incidência de tributos. Os preços médios informados consideram a média aritmética nacional dos preços à vista, sem encargos e sem tributos, praticados na modalidade de venda padrão nos diversos pontos de fornecimento, que variam ao longo do território nacional, para mais ou para menos em relação à média. Essa variação pode ser de até 12% para gasolina A e até 9% para o diesel A.

No período de 04 de julho de 2017 a 12 de setembro de 2018, o índice de preços da gasolina aumentou de 100 para 170, isto é, uma valorização de 70%; e o índice do diesel subiu de 100 para 155, aumento de cerca de 55%. A tabela 1 descreve o comportamento dos preços médios nos meses de julho de 2017 e setembro de 2018. Nesse período, o preço médio da gasolina na refinaria aumentou de R$ 1,291 para R$ 2,197 o litro. A variação em centavos foi de R$ 0,906. Para o diesel, o preço médio subiu de R$ 1,509 para R$ 2,296, ou seja, aumento de R$ 0,787 centavos.

Tabela 1 – Preço médio da Refinaria Petrobras

 

 

 

Fonte: Valuup Consultoria e Petrobras.
Nota: setembro de 2018 até o dia 12.

Em virtude dessa nova política de preços, as distribuidoras e revendedores tiveram que aumentar seus preços também. Mas como se comportaram as margens dos revendedores durante esse período? Será que eles conseguiram repassar esse aumento para o consumidor, mantendo as margem em reais?

Tabela 2 – Preços ao Consumidor, Distribuidora e Margens: jul/17 a set/18.

 Fonte: Valuup Consultoria e ANP.

A resposta é não. Os revendedores de combustíveis no varejo não conseguiram repassar os aumentos das distribuidoras ao público final. Com isso, as margens operacionais em reais sofreram reduções, conforme destacado pela tabela 2. O reajuste gera diminuição do consumo e assim prejuízo para os empresários, logo, parte dessas oscilações são absorvidas pelos postos. Essa informação nem sempre é difundida pela sociedade que cria a falsa imagem de que os postos são os grandes vilões das altas dos preços dos combustíveis.

As três fases da greve dos caminhoneiros

A paralisação dos transportadores de cargas rodoviárias por duas semanas está custando caro à economia brasileira. Aqui, não entramos no mérito da greve, que sim, teve fortes motivos para ser desencadeada, vamos falar apenas do cenário que ela estabeleceu no país.

A primeira delas foi a crise:  as duas semanas do mês de maio foram as que impactaram diretamente toda a sociedade. A economia foi surpreendida pela estagnação quase total da logística. E interromper esse fluxo significa que a produção não sai e não chega a lugar nenhum. Não demorou faltar combustíveis, alimentos perecíveis e insumos de todas as naturezas. Não precisamos nos alongar para explicar os danos uma vez que todos vivemos intensamente esse período.

A segunda fase foi o choque: classificamos o mês de junho como o primeiro abatimento pós greve. A sociedade percebeu que não bastava a liberação das estradas para que tudo fosse normalizado. Os alimentos continuaram com preços elevados e se criou um bastidor de prejuízos que ainda não poderiam ser dimensionados. Muito mais que apenas o tempo perdido, muitos produtos deixaram de ser produzidos e consequentemente deixaram de ser vendidos no mês de junho. Podemos dizer que junho foi o mês para olhar para a destruição deixada pela greve.

A terceira fase chamamos de impacto: a mais longa, entendemos que se estenderá até o mês de setembro. Até lá não será possível olhar para os resultados e índices econômicos sem considerar a paralisação de maio. Acreditamos que será o tempo necessário para que a economia se desvencilhe dos efeitos pós greve. Neste período a produção será normalizada, os insumos deverão voltar aos preços de equilíbrio e será possível ter um cenário econômico menos atribulado.

Gráfico: A Greve dos caminhoneiros e seus impactos nos índices de preços IPCA e IGP-M

O preço dos combustíveis foi parar nas alturas, de quem é a culpa?

Em análise, a Valuup demostrou onde estavam e quais foram os impactos dos sucessíveis aumentos nos combustíveis.

Ainda há uma grande desinformação sobre os preços dos combustíveis, muitas pessoas ainda acreditam que os grandes vilões dessa história são os postos, isso não é verdade. Em estudo aprofundado a Valuup analisou as tomadas de decisões e ações que resultaram no descontrole dos preços do setor.

Os revendedores varejistas, que estão na ponta final desse processo, também pagam o preço alto das modificações nos preços no último ano. Na análise dos economistas da Valuup foi possível elencar três fatores que interferiram diretamente para a alta elevada desde julho do ano passado: aumento da carga tributária; mudança da política de preços da Petrobrás; e os repasses das distribuidoras.

O primeiro está relacionado diretamente às alíquotas de PIS e Cofins que tiveram aumento no segundo semestre de 2017, o resultado foi a elevação imediata de R$ 0,41 na gasolina. Com esse acréscimo, aumentou também o ICMS, uma vez que o imposto incide em 29% do preço médio. Quanto mais caro o combustível mais caro é o imposto. Hoje, 45% do valor que o consumidor paga na bomba, vai para os cofres públicos por meio de impostos.

A segunda ação que desencadeou sucessivos aumentos, também no início do segundo semestre do ano passado, foi a mudança da política de preços da Petrobras. A estatal passou a alterar os valores diariamente, baseados nos preços internacionais do barril de petróleo e na variação no preço do dólar.

O gráfico a seguir descreve as constantes mudanças de preços dos combustíveis praticados pela Petrobras às distribuidoras. Tendo como base 100, a data de 03/07/2017, a política de preços fez com a gasolina subisse 50% e o diesel 37%, no período analisado. O diesel só não subiu mais, em virtude dos termos do acordo entre os caminhoneiros e o governo.

Gráfico: Evolução nos Preços dos Combustíveis Pós-Política da Petrobras: 04/07/2017 a 15/08/2018.