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Recuperação da Economia Brasileira

O desempenho da atividade econômica pode ser analisado pelos fatores da oferta ou demanda agregada. O Gráfico 1 destaca o desempenho do PIB, no acumulado de 12 meses, pelos segmentos da oferta. O PIB registra uma retração de 3,8%, muito influenciado pela recessão recorde do segundo semestre do ano passado, período mais crítico da pandemia. O setor da agropecuária foi destaque positivo, com crescimento de 2,3% anualizado. A forte demanda mundial por grãos, carnes e derivados puxaram as exportações e o segmento. As atividades do comércio e indústria tiveram um desempenho melhor do que o PIB, beneficiando-se do avanço do e-commerce e dos preços internacionais das commodities: minério de ferro (aço), petróleo e madeira, por exemplo. A indústria extrativa foi destaque positivo no início do ano, com ampliação da produção e dos investimentos.

 
Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais.
Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais.

Nos trimestres anteriores à pandemia, o PIB da construção mostrava baixo dinamismo e, por esse motivo, em 12 meses a atividade está em queda de 6,9%. Porém, cabe destacar que o setor está se recuperando, com crescimento no 1ºT/2021 na ordem de 2,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior (Gráfico 3). O setor de serviços com queda de 4,5% anualizada e representando cerca de 60% do PIB foi severamente afetado pelas restrições de mobilidade social e do elevado desemprego do trabalho informal. Dessa forma, uma recuperação mais robusta da economia brasileira passa necessariamente pelo avanço no processo de vacinação. Com isso, esperamos uma retomada mais consistente do setor de serviços nos próximos trimestres, em especial durante o segundo semestre (Gráfico 4).

Pela ótica da demanda, o destaque positivo em 12 meses está na formação bruta de capital fixo, com avanço de 2,0%. O volume de investimento no 1º trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior cresceu 4,6% (Gráfico 3), indicando um maior gasto das empresas na compra de novas máquinas e equipamentos. As exportações caíram pouco durante a pandemia em virtude da forte valorização das commoditiese indicam um crescimento no trimestre de 3,7%. O consumo das famílias representa 60% do PIB e sua queda de 5,7% em 12 meses (Gráfico 2) dificulta o registro de uma retomada mais robusta. Os dados do 1º trimestre de 2021 mostram uma estabilidade no consumo, e o maior desafio da economia consiste em estimular esse crescimento, com uma maior recuperação no mercado de trabalho e na renda real. 

 
          Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais.

Os fortes dados dos investimentos nas empresas mostram que o PIB, no 1º trimestre, foi puxado por fatores da oferta agregada. Dados divulgados pelo IBGE demonstram que o nível dos estoques (matérias-primas, produtos em elaboração ou acabados) foi de R$ 83,9 bilhões, representando 4,1% do PIB. Foi um maior nível percentual da série histórica das contas nacionais. Variações positivas nos estoques indicam uma recuperação econômica. Por exemplo, em 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, a variação positiva nos estoques atingiu cerca de 1,3% do PIB, mas com forte crescimento no consumo das famílias.

Valuup - Mercado de M&A segue com tendência de alta

Mercado de M&A segue com tendência de alta

Números acumulados até maio de 2021 já superam todo o ano de 2020

Seguindo a tendência do primeiro trimestre conforme o artigo M&A – 1º trimestre faz ano de 2021 começar com recordes, o acumulado das transações continuou com movimento de alta nos meses seguintes, superando os números de antes da crise de 2020, ano em que estas tiveram um período de pouca movimentação devido às inseguranças do mercado. Segundo a pesquisa Panorama de M&A no Brasil 2021 (Deloitte), a demora na compra de vacinas e as incertezas políticas no meio da crise sanitária e econômica que atingiu o mundo em 2020 fizeram com que o Brasil registrasse uma recuperação mais lenta.

Porém, a pandemia fez com que as empresas mais afetadas pela crise se tornassem atrativas para grupos capitalizados que buscam ganhar mercado pela compra de concorrentes ou que então buscam a diversificação de seus negócios. Até maio de 2021, o volume de transações atingiu a marca de 693, alta de 37,23% sobre o mesmo período do ano passado, e 20,3% acima de janeiro a maio de 2019, segunda a TTR (Transactional Track Record). 

Em valores, as operações atingiram R$ 221,6 bilhões, alta de 334,50% sobre igual período do ano passado, e 83% acima de 2019. A TTR inclui em suas estatísticas transações que não envolvem, necessariamente, assessores financeiros na intermediação. 

Segundo a consultoria Dealogic, que coleta dados do mercado financeiro, já foram realizadas neste ano, até o momento, 237 operações de fusões e aquisições no Brasil no valor de US$ 52,1 bilhões, superando o valor de todo o ano passado, que foi de US$ 45,9 bilhões em 185 transações. 

Os dados da pesquisa Panorama de M&A no Brasil 2021 (Deloitte) também apontam que o país deve continuar se destacando no mercado mundial de fusões e aquisições. Dos 100 executivos de empresas brasileiras entrevistados para a pesquisa, 71% estão buscando oportunidades para crescer de forma inorgânica enquanto 95% do total prevê que a atividade de M&A, em 2021, deve ser maior ou igual à reportada em 2020. Além disso, 64% dos executivos afirmaram também que estão buscando oportunidades de investimentos em fusões e aquisições no Brasil.

Com o cenário de juros em baixa e maior liquidez, o movimento de consolidação de empresas nacionais ganha força e, num outro movimento, o câmbio atrativo torna os ativos mais baratos para as empresas estrangeiras, estimulando a sua entrada no mercado nacional, apesar das incertezas econômicas e políticas que fazem esse investidor ficar mais receoso. Tais motivos nos levam a crer que o ano de 2021 ainda promete quebrar mais recordes no mercado de M&A.

Mercado de carros no Brasil

Uma discussão dos números recentes do mercado.

A pandemia trouxe um nível de incerteza econômico elevadíssimo. Os agentes econômicos realizaram seus movimentos de proteção, vendendo ativos de risco e demandando moeda precaucional. O excesso de poupança, aliado à queda na velocidade de circulação da moeda, tornou possível o aumento significativo da liquidez internacional, sem gerar pressões persistentes sobre a inflação. O Gráfico 1 descreve um comportamento nunca visto em toda a história recente do capitalismo: um nível de taxa de poupança das famílias acima de 15% de sua renda pessoal disponível. Um aumento realmente sem precedentes da poupança precaucional, aliado aos generosos programas de transferências governamentais, e um mercado de crédito desaquecido. Em março de 2020, quando a economia mundial parou, a taxa de poupança registrou uma marca de 33,7%, fazendo com que a velocidade de circulação da moeda (M2) caísse de 1,38 no primeiro trimestre para 1,10 no período seguinte, e assim permanecesse.

Muitos brasileiros são apaixonados por carros. O sonho do carro novo faz parte do imaginário de inúmeras pessoas, mesmo havendo uma crescente onda pela adesão de meios alternativos de transporte. O carro era e ainda é um item de consumo bastante estimado e que reflete desejos, status, prazeres e mais uma série de apreços emocionais.

Porém, desde o início da pandemia, os carros têm se tornado mais caros e mais raros de serem encontrados. O mercado de usados voltou a se reaquecer e, para alguns carros novos, há fila de espera. Boa parte desse problema pode ser explicada pela crise de oferta de produtos e insumos que o país vem enfrentando desde o último trimestre de 2020. Os preços dos insumos, ligados à cadeia produtiva dos veículos, disparou; praticamente todos os componentes foram afetados.

Segundo os dados extraídos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), houve o licenciamento de 142,7 mil carros em maio/21, a produção de 141,7 mil e a exportação de 36,9 mil automóveis. Esses números são, respectivamente, 28%, 38% e 12% inferiores se comparados a maio/19. Entretanto, superiores a maio/20, o segundo pior mês da história recente da indústria de veículos de passeio nacional.

Analisando os últimos dez anos da indústria de veículos de passeio, observa-se um primeiro momento de queda, que vai de junho/12 a dezembro/15, um período de estabilidade em 2016, seguido de uma lenta retomada a partir de janeiro/17 até dezembro/19. Em 2020 observamos a formação de um “vale”.

A curva de licenciamentos de carros foi superior à produção até fevereiro/15, devido à importação de veículos e câmbio favorável. Após esse período a tendência se inverte, e a produção (linha azul) ultrapassa os licenciamentos (linha laranja), movimento que segue assim desde então, salvo raras exceções. Em outras palavras, as exportações de veículos superaram as importações desde fevereiro/16.

Desde dezembro/20 a produção de carros de passeio no país aponta para baixo (linha azul), com uma fraca recuperação da exportação, e o número de licenciamentos andando de lado. O fato é que produção e licenciamentos andam juntos, mas chamamos atenção para a curva de produção com viés de baixa. A falta de veículos pode estar relacionada ao saldo de veículos importados e exportados, que vem caindo ano após ano (estamos exportando mais e importando menos), o que estaria sendo suportado pelos estoques das montadoras já em baixa.

Se analisarmos o período acumulado entre janeiro e maio de cada ano, observamos que, em 2021, foram produzidos 756 mil carros. Desconsiderando 2020, esse é o pior ano desde 2017 (que já não era bom) quando a produção foi de 897 mil carros. Já os licenciamentos (linha laranja) foram quase os mesmos em 2021 e 2017, com 680 mil carros. Acontece que, em 2017, exportamos, entre janeiro e maio, mais de 300 mil carros (linha roxa), contra apenas 166 mil em 2021.

Em 2021 observa-se uma recuperação da indústria de veículos de passeio se comparado a 2020, se é que é possível comparar com 2020! Porém, sobretudo em relação à produção, estamos ainda 140 mil carros abaixo de 2017, o que representa uma queda de 15%.

Sem dúvida, os efeitos da pandemia são sentidos na quebra da cadeia de fornecimento de insumos e peças para a indústria, no repasse de preços via commodities e variação cambial, ajustando tais impactos através de preços dos veículos.

Vacinação e a atividade econômica no segundo semestre

No Brasil, março deste ano foi o pior mês da pandemia. Esta segunda onda (ou segundo pico), como está sendo chamada, vem superando em larga escala a fase inicial da doença em nosso país. Para uma base comparativa, durante a primeira onda, em junho de 2020, o número de óbitos estimado era de 1.000 pessoas por dia. Apenas em março de 2021, o país registrou mais de 66 mil óbitos, ou seja, uma média diária de aproximadamente 2,1 mil mortes. O número de casos ativos também aumentou, pressionando o sistema de saúde de vários estados. A lotação nos leitos de UTI de hospitais e a utilização das UPAs para atendimento de pacientes geraram a necessidade, nos governos estaduais e municipais, de decretar as bandeiras vermelha ou roxa. 

Com efeito direto, a maior restrição na circulação de pessoas impactou negativamente a atividade econômica, que continuará fraca durante este primeiro semestre de 2021. Contudo, o país avançou na campanha de imunização. Estima-se que, só em março, 11,7 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina. Com o avanço da vacinação e consequente imunização da população brasileira, o retorno da mobilidade social terá impacto positivo sobre nossa economia, principalmente a partir do segundo semestre.

O gráfico a seguir descreve o avanço diário da doença no Brasil desde seu início em fevereiro de 2020. A transmissão da Covid-19 segue a mesma sazonalidade de outras doenças respiratórias, como a H1N1 e a gripe Influenza. Durante o início do outono e fim do inverno de 2020, o número de óbitos manteve-se elevado – cerca de 900 a 1.000 mortes diárias. A média móvel (sete dias) de novos casos diários chegou a ser de 45 mil. Esses números começaram a ser reduzidos com mais intensidade a partir de setembro, diminuindo para cerca de 500 o número de óbitos diários.

Gráfico 1 – Novos óbitos e média móvel da Covid-19 no Brasil 

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

O avanço da Covid-19 no Brasil teve seu pico no mês de março de 2021. Os novos casos passaram de uma média móvel (sete dias) diária de 45 mil, em fevereiro, para 77 mil em março, pressionando o sistema de saúde público e privado. Como consequência, vários estados e municípios decretaram as bandeiras vermelha e roxa. A mobilidade social foi severamente restringida. Serviços e atividades não essenciais foram fechados ou tiveram sua atuação bastante restrita. Por isso, esperamos uma atividade econômica mais fraca durante o primeiro semestre.

Destaca-se que, no dia 31 de março, o país registrou o recorde de óbitos diários (3,9 mil), foi o pico. Felizmente, a média móvel (sete dias) está em queda em abril. O sistema de saúde permanece extremamente pressionado, mas algumas cidades e estados estão começando a adotar a bandeira laranja, possibilitando, assim, uma maior mobilidade da população. O país enfrentará, nos próximos meses, o período de outono e inverno, estações de maior incidência de gripes e doenças respiratórias e, por isso, o avanço em massa da campanha de vacinação é a maior prioridade no combate à evolução da doença.

O gráfico a seguir destaca que março também foi o mês de maior número de pessoas vacinadas. Mais de 26 milhões de pessoas receberam a primeira dose, representando aproximadamente) 12,3% da população total do Brasil. Em média, o país aplicou cerca de 360 mil doses por dia e, desde janeiro, em torno de  285 mil por dia.

Gráfico 2 – Vacinação da Covid-19 no Brasil

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

Tivemos notícias positivas nos últimos dias: o Ministério da Saúde anunciou a compra de 138 milhões de doses das vacinas contra Covid-19. Pelos contratos, serão 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões de doses da Janssen, da Johnson & Johnson. A vacina da Janssen é aplicada em dose única e, no cronograma, está prevista a entrega de 16,8 milhões de doses até setembro e 21,1 milhões entre outubro e dezembro deste ano. A Pfizer pretende entregar o primeiro lote de 1 milhão de doses em abril, 2,5 milhões em maio, 10 milhões em junho, 10 milhões em julho, 30 milhões em agosto e 46,5 milhões em setembro. 

Desde 25 de março, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem recebendo remessa de insumos da China para a fabricação de 12 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. O último lote será entregue no início de abril e o material será processado em Bio-Manguinhos, na Fiocruz. O mais importante é que, a partir do segundo semestre, com a incorporação da tecnologia do IFA, a Fiocruz prevê entregar mais 110 milhões de doses.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem contratado, com diferentes laboratórios, o recebimento de cerca de 562 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até o fim de 2021. A entrega da grande maioria das vacinas está prevista para o segundo semestre como também a sua aplicação. Se o Brasil avançar de modo eficaz na campanha de vacinação, a mobilidade social será mais flexível e a economia terá um impulso de retomada da atividade produtiva, em especial do setor de serviços.

Efeito COVID-19 sobre as receitas e lucro operacional das empresas

Quais os setores mais afetados mundialmente?

Aswath Damodaran, professor da Stern School of Business at New York University, publicou recentemente em seu site um estudo do efeito da pandemia COVID-19 no mundo dos negócios. Os dados se referem ao ano de 2020. Tal estudo envolve a análise de mais de 40 mil empresas de capital aberto, dos mais diferentes setores, em todo o mundo.

O resultado demonstrou que as empresas (exceto empresas financeiras e bancos) tiveram um resultado geral praticamente nulo em 2020. Entre 2019 e 2020, a receita de todas as empresas listadas em bolsas de valores no mundo cresceu 0,33% enquanto o lucro operacional caiu -3,03%.

Quando analisamos somente a queda da receita, observamos que a maior ocorreu para a indústria de transporte aéreo e hotéis, conforme os números abaixo:

Os setores que mais cresceram em receita foram:

Quando avaliamos as quedas de lucro operacional, a maior delas está no setor de óleo e gás, seguido pelo setor de hotéis:

Os maiores ganhos de lucros operacionais foram do setor de metais preciosos e, em segundo lugar, da agroindústria:

Analisando, de maneira bastante ampla, temos que os setores que mais sofreram, ao longo de 2020, foram os setores de hotéis, aviação e óleo e gás. Por outro lado, os mais beneficiados foram os de metais preciosos, varejo (online e material de construção) e agricultura.

O senso econômico comum já poderia prever quedas expressivas no setor de hotelaria e aviação, mas talvez não em óleo e gás. Verificando os setores que mais ganharam, uma vez mais já eram de conhecimento os ganhos das vendas on-line e itens para a casa; porém, o setor que mais cresceu foi o de metais preciosos, talvez por representar um porto seguro em último estágio.

Juros de 10 anos nos EUA: uma taxa livre de risco menor.

Uma das variáveis mais importantes para determinar a taxa de desconto dos fluxos projetados decorrentes de um estudo de valor (Valuation) consiste em determinar a taxa de juros de longo prazo de um título soberano, sem risco de default. O mais utilizado é o título público norte-americano de 10 anos, o T-Bond 10Y.

No ano de 2020, em virtude da pandemia, a taxa de juros de longo prazo caiu de 1,80% em janeiro para 0,60% em março, fechando o ano em 0,93%. A preocupação com os fatores recessivos e as incertezas em relação à consolidação da retomada da atividade produtiva mantiveram os juros em patamares historicamente baixos conforme demonstrado no gráfico.

Fonte: Federal Reserve Bank of St. Louis.

Com a retomada mais forte da economia mundial e dos EUA, os preços das commodities foram pressionados e os juros, no início de 2021, subiram para 1,30%. Por exemplo, o preço do barril de petróleo (WTI) subiu de US$ 47 para US$ 60. É muito provável que os preços internacionais dos minérios, grãos, energia e alimentos continuem fortes. Esse fato se deve ao estímulo extremamente significativo do Fed (Banco Central dos EUA) ao avanço das campanhas de vacinação e à promessa de um pacote fiscal de cerca de US$ 1,9 trilhão.

Em outras palavras, com a retomada do mercado de trabalho norte-americano e uma pressão de preços de commodities, a taxa de juros de longo prazo tende a se normalizar a um patamar de equilíbrio sustentável. Esse valor tende a ser mais próximo de 2,0% ao ano; mas, provavelmente, apenas no final do ano de 2022. De fato, mais dois anos de juros baixos. Nesse sentido, os estudos de valores poderão se beneficiar de uma taxa de juros livre de risco, historicamente baixa, por um longo período.

Fusões e Aquisições em 2020

Apesar da recuperação no 3º e 4º trimestres, 2020 apresentou queda quando comparado a 2019

Depois de um 2019 com recorde de transações no mercado de fusões e aquisições no Brasil, 2020 apresentou um total de 1.549 operações, indicando queda de 5% quando comparado ao ano anterior, segundo os dados da Transactional Track Record (TTR).

Em nosso artigo publicado em 28/10/2020, Fusões e aquisições no Brasil – recuperação no 3º T indica um 4º T movimentado, elencamos os balizadores da fraca movimentação no setor de M&A no primeiro semestre de 2020. Em linhas gerais, observou-se no artigo um cenário pouco atrativo para a abertura ou avanço de negociações, com uma redução de 25% nas transações do primeiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019 (segundo o TTR).

O mesmo artigo cita a recuperação apresentada no 3º T de 2020, indicando os motivos dessa retomada e as perspectivas para o 4º T que, de fato, confirmaram-se.  Os números do quarto trimestre mostram manutenção da tendência de recuperação iniciada no terceiro trimestre do ano, logo após os impactos causados pelo Coronavírus. Foram 491 negócios nos meses de outubro, novembro e dezembro, apenas 3% a menos que no mesmo período de 2019.

O segundo semestre apresentou um cenário com a menor taxa básica de juros da história, em que se observou um processo de transferência dos recursos alocados em renda fixa para a economia real. Da mesma forma, com a baixa remuneração dos investimentos, as transações tornaram-se atrativas exigindo menor retorno dos novos projetos aliados com a redução do valor de empresas mais afetadas pela crise.

Esses fatores acarretaram dois tipos de movimento:

1) Empresas com caixa aproveitando oportunidades de negócio, seja diversificando suas atividades, seja investindo em tecnologia para se adaptar às novas condições impostas pelo distanciamento social;  

2) Empresas que estão vislumbrando oportunidades pela sinergia de suas operações com o intuito de conseguir se reerguer mais rapidamente. Leia mais sobre O Valor de Sinergia em processo de M&A.

Quando analisamos os setores que mais concentraram transações em 2020, conseguimos observar perfeitamente esses dois movimentos citados  juntamente com as novas demandas do mercado, como a transformação digital e a busca por serviços e produtos na área de saúde.

 O setor com mais negócios foi o de tecnologia, com 504 operações de fusão de aquisição  – um aumento de 19% em comparação com 2019. Na sequência, apareceram os setores de finanças e seguros com 222 operações (aumento de 4% frente a 2019) e higiene e saúde com 175 transações (aumento de 22%).

Para 2021, a perspectiva é de melhora para as movimentações de M&A devido à maior segurança para o ambiente de negócios, impulsionado pela chegada da vacina e da esperada redução da pandemia com a consequente recuperação dos efeitos causados pela Covid-19.

Número de Recuperações Judiciais tem menor nível dos últimos 5 anos. O que será de 2021?

No mês passado (jan/21), a Serasa Experian divulgou os dados de insolvência consolidados de 2020. Analisando os dados disponibilizados, o número de Recuperações Judiciais deferidas em 2020 foi o menor nos últimos cinco anos conforme gráfico a seguir:

Fonte: Serasa. Elaborado por Valuup.

Ou seja, não podemos concluir que a pandemia por que estamos passando foi um agravante no mercado de insolvência.

Para entendermos melhor o que está ocorrendo atualmente, é importante olharmos para crises passadas. Ao observarmos o número de Recuperações Judiciais deferidas no ano de 2014, por exemplo, ano de crise econômica, percebemos que ocorreu uma menor quantidade de deferimentos do que em 2013. Apenas em 2015 esse número aumentou, tendo seu ápice em 2016, com 1.514 RJs deferidas.

Adentrando um pouco mais na economia brasileira, é notória a força dos bancos de primeira linha e, quando analisamos seus relatórios, podemos prever uma série de movimentos a partir dos dados apresentados por eles.

O aumento no número de RJs referidas não pareceu surpresa para os bancos uma vez que estes conseguem demonstrar suas expectativas de futuras do Mercado de Insolvência através de suas Provisões de Perdas, que representam o montante que os bancos não esperam recuperar de seus inadimplentes no ano.

Fonte: Serasa e Bancos (Itaú, Santander e Bradesco). Elaborado por Valuup.

Essa questão torna-se evidente ao observarmos que, a partir de 2013, a Provisão de Perdas dos bancos inicia um processo de subida, que se destaca entre 2014 e 2015, alcançando um primeiro pico em 2016 para, posteriormente, ter uma pequena queda, indicando que as expectativas foram ajustadas.

Em 2018 a Provisão de Perdas dos bancos volta a crescer, porém de maneira controlada e estável. No ano de 2020, como demonstra o gráfico, os bancos voltam para uma forte Provisão de Perdas. Logo, estão esperando um ano difícil no mercado de NPL (Non-Performing Loan).

Uma vez que os bancos tiveram suas provisões elevadas, fizemos a regressão linear das Recuperações Judiciais deferidas nos últimos dez anos, para projetar qual seria o número de RJs nos próximos anos e chegamos ao seguinte resultado:

Fonte: Serasa e Bancos (Itaú, Santander e Bradesco). Elaborado por Valuup.

Portanto, podemos esperar uma elevação nos casos de Recuperação Judicial no ano de 2021, principalmente em comparação com o ano anterior. E, pelo que tudo indica, podendo ter patamares parecidos com os de 2015 e 2016 nos próximos dois anos, como reflexo da crise econômica que está em curso.

Referências:

Bradesco. Relação com Investidores: Relatórios. Disponível em: <https://www.bradescori.com.br/informacoes-ao-mercado/relatorios-e-planilhas/relatorios/>. Acesso em: 27 jan. 2021.

Banco Central. Estudos Especiais Banco Central: Fechamento de Empresas na Pandemia. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/EstudosEspeciais/EE099_Fechamento_de_empresas_na_pandemia.pdf>. Acesso em: 27 jan. 2021.

Serasa Experian. Indicadores Econômicos: Recuperações Judiciais Deferidas. Disponível em: <https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/indicadores-economicos/>. Acesso em: 27 jan. 2021.

Itaú. Relação com Investidores: Resultados. Disponível em: <https://www.itau.com.br/relacoes-com-investidores/listresultados.aspx?idCanal=lyyjtVJ4BExsF2fi1Kfy0Q==>. Acesso em 27 jan. 2021.

Santander. Relação com Investidores: Resultado. Disponível em: <https://www.santander.com.br/ri/resultados>. Acesso em: 27 jan. 2021.

Dicas sobre gestão de caixa em empresas em crise

O período de pandemia trouxe mudanças na nossa sociedade, as preferências do consumidor mudaram e, sobretudo, a cabeça do empresário. Majoritariamente, os negócios tiveram uma queda de faturamento durante essa fase, o caixa virou o grande vilão ou herói das empresas e a necessidade de uma gestão de caixa mais efetiva foi evidenciada.

Durante o evento online, realizado pela Valuup no dia 01 de abril de 2020, que reuniu cerca de 200 pessoas, todos foram questionados sobre as dificuldades enfrentadas neste período de crise, e uma das perguntas foi: O caixa da sua empresa sustentaria sua operação por quantos meses?

 O resultado da pesquisa surpreende quando se analisa que quase metade dos respondentes (44%) diz que teria caixa para apenas dois meses.

Agora que o pior da turbulência passou, é necessário que as empresas, independentemente do tamanho, comecem a olhar com outros olhos para o caixa, por isso vamos trazer algumas dicas para melhora da posição do caixa: sugerimos dividir em duas fases, sendo o primeiro momento considerando aumento e salvaguarda do caixa e, no segundo, tornando o caixa sustentável.

1ª Fase – Aumento e salvaguarda de caixa

Para pensar e desenvolver as projeções de caixa, propomos a criação de um comitê de caixa e indicamos que seja composto pelos gestores das áreas a seguir:

  • Administrativo/Operações;
  • Financeiro;
  • Compras;
  • Vendas.

Aconselhamos que esse comitê, a partir de então, reúna-se semanalmente para discussões, acompanhamento e aperfeiçoamento da gestão do caixa.

Apontamos como essencial, para dar início a esse processo, que cada área levante, no mínimo, os seguintes pontos (ideal que seja feito reunião de imersão e que as discussões não levem mais do que uma semana):

  1. Operações/Administrativo
    • Programação de produção
    • Fornecedores indiretos
    • Níveis de estoques
    • Ativos não essenciais
  2. Financeiro
    • Fluxo de caixa (histórico e projeções)
    • Processos e controles do financeiro
    • Posição das contas correntes e limites disponíveis
    • Capital de giro e nível de endividamento
  3. Compras
    • Principais fornecedores categorizados
    • Fornecedores substitutos
    • Processo de compras e controles
  4. Vendas
    • Principais clientes categorizados
    • Formas de pagamento
    • Processos de vendas e controles

É importante que o comitê gestor do caixa defina as projeções conjuntamente; sugerimos que trabalhe com um horizonte de três meses, com visão diária, semanal e mensal, em que indicamos uma estrutura simplificada como o exemplo a seguir:

                Saldo Inicial

(+)          Entradas Operacionais

(-)           Saídas Operacionais

(=)          Saldo Operacional de Caixa

(+)          Entradas não operacionais

(-)           Saídas não operacionais

(=)          Saldo não operacional

                Saldo Final

Além de discussão e construção das projeções, receitamos que esse comitê seja responsável por:

  1. Controles centralizados de novas compras e novas vendas;
  2. Acompanhamento dos indicadores de caixa;
  3. Plano de ações semanais de geração e preservação de caixa;
    • O resultado de cada ação semanal é apresentado na reunião seguinte com os devidos indicadores de desempenho da ação.
  4. Controle do previsto x realizado.

Cada empresa tem suas especificidades; porém, podemos listar dez pontos a serem abordados por todas as empresas para estabilização do caixa:

  1. Ajustes de prazos do contas a pagar e contas a receber (quanto menor for a diferença entre pagamento e recebimento melhor);
  2. Redução do preço de venda para liquidação e estoques obsoletos;
  3. Venda de ativos não essenciais;
  4. Levantamento e criação de fornecedores alternativos;
  5. Refinanciamento de dívidas;
  6. Estratégia de cobrança de créditos inadimplidos;
  7. Revisão dos controles de créditos para clientes;
  8. Estudo da rentabilidade dos produtos (preferencialmente por cliente) e, consequentemente, definição da não continuidade dos não rentáveis;
  9. Pausa nos investimentos nessas 13 semanas da 1ª Fase;
  10. Envolver a empresa como um todo no processo de cultura do caixa.

Ao fim das 13 semanas e depois de trabalhar os pontos levantados, entramos na 2ª Fase.

2ª Fase – Caixa sustentável

Sugerimos que o comitê de caixa continue a se reunir semanalmente. No entanto, uma vez que todos já estão envolvidos no processo e a cultura do caixa já está instalada, agora o comitê vai passar a manter o acompanhamento dos novos processos e controles trazidos. Vai começar a discutir as questões de maneira menos imediatista, a considerar o médio e longo prazo e  a pensar sobre o que é necessário para a melhora da empresa como um todo, analisando as ações futuras no ponto de vista do caixa, continuando a manter o horizonte projetivo para o acompanhamento do previsto  x  realizado.

Outra dica que podemos deixar é a remuneração/incentivo dos gestores pela geração de caixa e não por outras métricas.

O que podemos observar é que empresas que conseguem percorrer esse caminho se tornam empresas muito mais seguras e perenes. Afinal, as empresas quebram e entram em crise por falta de caixa. Se você e/ou sua empresa quiserem ajuda para o desenvolvimento desse processo, a equipe da Valuup poderá ajudá-lo.

Impairment Test do setor de Tecnologia da Informação

Empresas do setor fazem testes e não identificam a necessidade de reconhecimento de perda

Nos primeiros meses da pandemia, imaginávamos que haveria uma grande demanda por trabalhos de impairment test de ativo imobilizado e intangível, bem como fair value da carteira de recebíveis, covenants e, em alguns casos, going concern para as empresas. Todavia, não foi o que se confirmou nos meses subsequentes.

Os efeitos financeiros ocasionados pela Covid-19, obrigando as empresas a estimar, reconhecer e registrar perdas oriundas do impacto da pandemia nos negócios, parecem ter sido mitigados e causado, até o momento, baixo impacto nos três setores que analisamos: Viagens e Lazer, Varejo e agora Tecnologia da Informação (TI).

Em março desse ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) destacou “a importância de as companhias abertas e seus auditores independentes considerarem cuidadosamente os impactos da Covid-19 em seus negócios e reportarem nas demonstrações financeiras os principais riscos e incertezas.” No mesmo comunicado, a CVM menciona que não deveriam ser realizados ajustes que fossem revertidos num breve espaço de tempo.

Para esse artigo, selecionamos o setor de TI conforme Classificação Setorial das Empresas Negociadas na B3, disponível no seu site. Analisamos as notas explicativas com o objetivo de constatar a existência de Nota específica para o    evento Covid-19, suas razões e se houve ou não registro de perda por impairment realizado pelas empresas, de acordo com a tabela a seguir:

Fontes:

As DFs foram disponibilizadas pelas empresas em www.b3.com.br, acessadas em 16/10/20, ou no site das próprias empresas.

Constatamos que todas as empresas do setor de varejo apresentaram Nota Covid-19. Entre os fatores mais evidenciados, destacamos o baixo impacto percebido pelas empresas e a adoção de práticas de trabalho que visam proteger a saúde dos empregados.

Todas as empresas analisadas afirmaram ter realizado testes de recuperabilidade e apenas a SINQIA registrou ajuste por impairment test.

A princípio, parece que as perdas estão sendo menores que as esperadas, fazendo com que as empresas não tenham a necessidade de registrar ajuste por impairment test. Aguardaremos o final do ano para saber se as demonstrações anuais trarão perdas às empresas e se os registros seguirão conforme recomendações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), através das normas NBC TG 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos, NBC TG 46 – Mensuração do Valor Justo, NBC TG 48 – Instrumentos Financeiros, e NBC TG 24 – Evento Subsequente.