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Vacinação e a atividade econômica no segundo semestre

No Brasil, março deste ano foi o pior mês da pandemia. Esta segunda onda (ou segundo pico), como está sendo chamada, vem superando em larga escala a fase inicial da doença em nosso país. Para uma base comparativa, durante a primeira onda, em junho de 2020, o número de óbitos estimado era de 1.000 pessoas por dia. Apenas em março de 2021, o país registrou mais de 66 mil óbitos, ou seja, uma média diária de aproximadamente 2,1 mil mortes. O número de casos ativos também aumentou, pressionando o sistema de saúde de vários estados. A lotação nos leitos de UTI de hospitais e a utilização das UPAs para atendimento de pacientes geraram a necessidade, nos governos estaduais e municipais, de decretar as bandeiras vermelha ou roxa. 

Com efeito direto, a maior restrição na circulação de pessoas impactou negativamente a atividade econômica, que continuará fraca durante este primeiro semestre de 2021. Contudo, o país avançou na campanha de imunização. Estima-se que, só em março, 11,7 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina. Com o avanço da vacinação e consequente imunização da população brasileira, o retorno da mobilidade social terá impacto positivo sobre nossa economia, principalmente a partir do segundo semestre.

O gráfico a seguir descreve o avanço diário da doença no Brasil desde seu início em fevereiro de 2020. A transmissão da Covid-19 segue a mesma sazonalidade de outras doenças respiratórias, como a H1N1 e a gripe Influenza. Durante o início do outono e fim do inverno de 2020, o número de óbitos manteve-se elevado – cerca de 900 a 1.000 mortes diárias. A média móvel (sete dias) de novos casos diários chegou a ser de 45 mil. Esses números começaram a ser reduzidos com mais intensidade a partir de setembro, diminuindo para cerca de 500 o número de óbitos diários.

Gráfico 1 – Novos óbitos e média móvel da Covid-19 no Brasil 

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

O avanço da Covid-19 no Brasil teve seu pico no mês de março de 2021. Os novos casos passaram de uma média móvel (sete dias) diária de 45 mil, em fevereiro, para 77 mil em março, pressionando o sistema de saúde público e privado. Como consequência, vários estados e municípios decretaram as bandeiras vermelha e roxa. A mobilidade social foi severamente restringida. Serviços e atividades não essenciais foram fechados ou tiveram sua atuação bastante restrita. Por isso, esperamos uma atividade econômica mais fraca durante o primeiro semestre.

Destaca-se que, no dia 31 de março, o país registrou o recorde de óbitos diários (3,9 mil), foi o pico. Felizmente, a média móvel (sete dias) está em queda em abril. O sistema de saúde permanece extremamente pressionado, mas algumas cidades e estados estão começando a adotar a bandeira laranja, possibilitando, assim, uma maior mobilidade da população. O país enfrentará, nos próximos meses, o período de outono e inverno, estações de maior incidência de gripes e doenças respiratórias e, por isso, o avanço em massa da campanha de vacinação é a maior prioridade no combate à evolução da doença.

O gráfico a seguir destaca que março também foi o mês de maior número de pessoas vacinadas. Mais de 26 milhões de pessoas receberam a primeira dose, representando aproximadamente) 12,3% da população total do Brasil. Em média, o país aplicou cerca de 360 mil doses por dia e, desde janeiro, em torno de  285 mil por dia.

Gráfico 2 – Vacinação da Covid-19 no Brasil

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

Tivemos notícias positivas nos últimos dias: o Ministério da Saúde anunciou a compra de 138 milhões de doses das vacinas contra Covid-19. Pelos contratos, serão 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões de doses da Janssen, da Johnson & Johnson. A vacina da Janssen é aplicada em dose única e, no cronograma, está prevista a entrega de 16,8 milhões de doses até setembro e 21,1 milhões entre outubro e dezembro deste ano. A Pfizer pretende entregar o primeiro lote de 1 milhão de doses em abril, 2,5 milhões em maio, 10 milhões em junho, 10 milhões em julho, 30 milhões em agosto e 46,5 milhões em setembro. 

Desde 25 de março, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem recebendo remessa de insumos da China para a fabricação de 12 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. O último lote será entregue no início de abril e o material será processado em Bio-Manguinhos, na Fiocruz. O mais importante é que, a partir do segundo semestre, com a incorporação da tecnologia do IFA, a Fiocruz prevê entregar mais 110 milhões de doses.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem contratado, com diferentes laboratórios, o recebimento de cerca de 562 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até o fim de 2021. A entrega da grande maioria das vacinas está prevista para o segundo semestre como também a sua aplicação. Se o Brasil avançar de modo eficaz na campanha de vacinação, a mobilidade social será mais flexível e a economia terá um impulso de retomada da atividade produtiva, em especial do setor de serviços.

Efeito COVID-19 sobre as receitas e lucro operacional das empresas

Quais os setores mais afetados mundialmente?

Aswath Damodaran, professor da Stern School of Business at New York University, publicou recentemente em seu site um estudo do efeito da pandemia COVID-19 no mundo dos negócios. Os dados se referem ao ano de 2020. Tal estudo envolve a análise de mais de 40 mil empresas de capital aberto, dos mais diferentes setores, em todo o mundo.

O resultado demonstrou que as empresas (exceto empresas financeiras e bancos) tiveram um resultado geral praticamente nulo em 2020. Entre 2019 e 2020, a receita de todas as empresas listadas em bolsas de valores no mundo cresceu 0,33% enquanto o lucro operacional caiu -3,03%.

Quando analisamos somente a queda da receita, observamos que a maior ocorreu para a indústria de transporte aéreo e hotéis, conforme os números abaixo:

Os setores que mais cresceram em receita foram:

Quando avaliamos as quedas de lucro operacional, a maior delas está no setor de óleo e gás, seguido pelo setor de hotéis:

Os maiores ganhos de lucros operacionais foram do setor de metais preciosos e, em segundo lugar, da agroindústria:

Analisando, de maneira bastante ampla, temos que os setores que mais sofreram, ao longo de 2020, foram os setores de hotéis, aviação e óleo e gás. Por outro lado, os mais beneficiados foram os de metais preciosos, varejo (online e material de construção) e agricultura.

O senso econômico comum já poderia prever quedas expressivas no setor de hotelaria e aviação, mas talvez não em óleo e gás. Verificando os setores que mais ganharam, uma vez mais já eram de conhecimento os ganhos das vendas on-line e itens para a casa; porém, o setor que mais cresceu foi o de metais preciosos, talvez por representar um porto seguro em último estágio.

Viabilidade econômica de novo stay period

A crise econômica, causada pela pandemia, pode justificar pedidos de prorrogação ou novo stay period.

As empresas enfrentarão grandes desafios em meio ao período recessivo que estamos prestes a entrar. Haverá deterioração acentuada do caixa futuro, entre outros impactos. Não resta dúvidas que as empresas que estão em Recuperação Judicial tendem a ter um caminho ainda mais tortuoso. A Valuup entende ser viável do ponto de vista econômico e financeiro um pedido de postergação ou novo stay period, sendo possível até mesmo a revisão dos planos de Recuperação Judicial frente ao judiciário e credores.

Essa situação já foi concretizada na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. O Juiz Tiago Henriques Papaterra Limongi, concedeu suspensão da Assembleia Geral de Credores e prorrogação do stay period para a Nasa Laboratório Bioclinico Ltda – em Recuperação Judicial.

Na decisão o magistrado diz ser “inevitável a prorrogação do stay period pelo período de suspensão da AGC, valendo o registro, uma vez mais, de que a recuperanda não deu causa ao retardamento da marcha processual e de que se está diante de um evento externo e imprevisível”.

Esta decisão é tempestiva e precaucional não só do ponto de vista da saúde pública, mas também do ponto de vista econômico e financeiro, em decorrência das incertezas de geração de caixa nos períodos futuros.

O temor de uma recessão financeira é eminente. As empresas em Recuperação Judicial, normalmente financeiramente fragilizadas, precisam agir rapidamente para resguardar que suas atividades permaneçam vivas. Caso contrário, teremos marcas históricas de convolação em falência.

Sendo assim, do ponto de vista econômico e financeiro, nós da VALUUP entendemos ter elementos suficientes para solicitações de prorrogação e/ou novo stay period. E até mesmo necessidade de novo estudo de viabilidade econômico financeira acarretando ajustes no Plano de Recuperação Judicial.

Processo: 1026155-53.2019.8.26.0100