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A alta do dólar e expectativas para a economia brasileira

Lucas Lautert Dezordi
Doutor em Economia e Sócio da Valuup Consultoria.

O mês de setembro foi marcado pelo rompimento da barreira de R$ 4,00 o preço do dólar. A última vez que a moeda estrangeira tinha registrado um valor tão elevado tinha sido no período 2002/03, durante a campanha eleitoral presidencial e a vitória do governo Lula para a Presidência. No primeiro mandato de Lula, os mercados foram estabilizados a partir de um forte ajuste fiscal, via superávit primário de 4,25% do PIB. Esses esforços em conjunto a uma política monetária contracionista conseguiram estabilizar a inflação e colocar novamente a economia brasileira em uma trajetória de crescimento sustentável, baseada na expansão do mercado doméstico.

Mas agora, o que podemos esperar de nossa economia?

 

alta-dolar-valuupNossa situação é muito mais delicada em virtude da forte instabilidade política, provocada pelas relações muitos conflituosas entre o Executivo (governo do PT) e o Legislativo (liderados pelo PMDB). Para ilustrar como esse ambiente hostil vem afetando a economia brasileira, desenvolvemos uma simples figura, destacando as inter-relações entre a política, o orçamento e os mercados.

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Com a forte instabilidade política observada na esfera Federal, o Executivo não consegue aprovar medidas de redução do déficit público e sofre com as pautas-bombas apresentadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. É importante registrar que o orçamento público brasileiro está em frangalhos. Refrescando alguns números, temos que até 2013, o Brasil operava com um déficit público/PIB na ordem de 3,5%; em 2014 esse valor passou para 6,7%; e em 2015 estamos operando com um déficit na ordem de 7% do PIB. No dia 31 de agosto de 2015, quando o Executivo enviou ao Congresso um projeto de Lei Orçamentária para 2016 com uma projeção de déficit público de 8%, o mercado financeiro reagiu abruptamente: queda da nota de Investimento da S&P (aumento do risco país) e fortíssima pressão sobre o mercado de divisas.

O impacto imediato de um dólar mais forte e ultrapassando com folga a barreira dos R$4,00 é uma deterioração das expectativas inflacionárias. Uma economia com forte pressão inflacionária irá exigir o aumento nas taxas de juros de mercado (DI futuro), jogando a economia em uma severa recessão econômica. Infelizmente, estamos vivenciando uma situação de grande desequilíbrio orçamentário, com dominância fiscal. O pior de tudo é que os aumentos dos juros a partir desse estágio terão pouco ou nenhuma influência sobre a dinâmica inflacionária, a qual ganhou força e combustível oriundo do desequilíbrio fiscal. Essa situação é insustentável e perversa. Caso o setor público torne-se mais complacente com o déficit público/PIB crescente iremos ver no Brasil um colapso no mercado de crédito e uma recessão muito mais profunda, similar a observada nos países europeus durante a crise financeira internacional.

Neste sentido, torna-se fundamental o reestabelecimento das forças políticas do Executivo e Congresso para trabalharem em conjunto com o intuito de estabilizarem e reduzirem o déficit público cíclico o mais rápido possível. Não há mais tempo para brincar de política econômica, tornando-se um líder político irresponsável. O mercado não vai perdoar!

Sustentabilidade e empresas: como estas duas questões conversam!

Recentemente fizemos um estudo para investigar se as empresas que se dizem sustentáveis, de fato mantém os investimentos em sustentabilidade mesmo quando seus indicadores econômico e financeiros não vão muito bem. Descobrimos que a sustentabilidade das empresas é algo mais discursivo do que uma preocupação real com as gerações futuras.

sustentabilidade

Há uma grande discussão em torno do tema sustentabilidade. A preocupação surgiu na década de 1970, e tomou força na década de 1990. A partir do início deste século as empresas passaram a empregar o termo sustentabilidade para quase tudo o que fazem. Tornando-se um jargão no mundo dos negócios, um discurso. Esta comunicação, ou discurso, foi feita através da mídia e da divulgação dos valores das empresas (missão e visão das empresas) de modo a legitimar a ação destas na sociedade.

Do ponto de vista teórico existe um grande embate acerca do tema sustentabilidade. A grande pergunta é: como é possível crescer economicamente sem que haja impacto sobre as questões sociais e ambientais, ou seja, como podemos produzir tantos produtos para sociedade sem que isso prejudique a sustentabilidade do planeta?

Acabou-se por convencionar que o conceito  mais aceito é do triple botton line. Este conceito argumenta que uma ação é sustentável quando ela se preocupa com três aspectos: a sustentabilidade econômica, a sustentabilidade social e a sustentabilidade ambiental.

Analisamos 15 empresas brasileiras de grande porte que se declaram sustentáveis através de seu discurso como sociedade, neste caso analisamos o discurso através da presença da palavra “sustentabilidade” ou sinônimos na missão, visão e valores das empresas. Do outro lado analisamos os relatórios de sustentabilidade produzidos por essas empresas através do modelo GRI (Global Reporting Initiative), onde podemos constatar a evolução dos investimentos dessas empresas em ações sociais e ambientais, por meio de 52 indicadores obrigatórios existentes. Analisamos a evolução dessas empresas no período de 2009 a 2012, sempre comparando a evolução social e ambiental com a evolução econômica e financeira. Nós evidenciamos a performance financeira das empresas através de cinco indicadores que são considerados importantes pelo mercado de capitais: receita líquida, lucro líquido, o lucro operacional (EBITDA), o retorno sobre os ativos (ROA) e retorno sobre o patrimônio (ROE).

Na tabela abaixo apresentamos as empresas analisadas e a performance sustentável em comparação com a performance econômico-financeira, em ordem alfabética.

TABELA 1    NÚMERO DE INDICADORES SUSTENTÁVEL COM CRESCIMENTO ACIMA DA PERFORMANCE ECONÔMICA-FINANCEIRA

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A média de indicadores de sustentabilidade com crescimento acima do crescimento financeiro das empresas foi de: 10,5% para a Receita líquida; 16,7% para o Lucro líquido; 16,8% em relação ao EBITDA; 16,3% para o ROA; e, 16,6% quando analisado o ROE. Com isso confirmamos que as empresas que se declaram sustentáveis não apresentam uma performance sustentável (investimento em sustentabilidade) superior à performance econômico-financeira. O emprego da palavra “sustentabilidade” pela empresa em sua estratégia está mais ligada a um propósito discursivo da organização do que uma preocupação real.

Individualmente as empresa que apresentaram melhor desempenho sustentável foi, pela ordem: Light, EDP Energias e Petrobras.

Parece que usar o termo “sustentabilidade” no discurso com a sociedade é algo relativamente fácil, afim de contas inserir algumas palavras deste tipo na comunicação da empresa não é nada complicado. Porém manter investimentos sociais e ambientais em linha com o crescimento da receita, lucro ou do retorno econômico-financeira é algo ainda muito difícil para as empresas.