No último dia 30 de junho, o IBEF
realizou o evento online, O Papel do CFO no Processo de Recuperação Judicial,
organizado pelo Comitê de Finanças.
Os debatedores convidados foram:
- Dr.
Daniel Carnio Costa – Juiz Titular da 1ª Vara
de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo;
- Luiz
Antonio Cavet – CFO da Cocelpa;
- Fábio
Mazzini – Diretor Presidente da Mangels;
- Tiago
Schuelter – Vice-Presidente Executivo da Taipa FIDC.
O mediador do debate foi Luís
Gustavo Budziak, sócio da Valuup Consultoria e membro do Comitê de Finanças do IBEF.
O primeiro debatedor foi o Dr.
Daniel Carnio Costa, que trouxe uma rápida contextualização sobre as opções legais
para empresas em crise: falência e recuperação: judicial
e extrajudicial.
Destacou que a essência dos processos de recuperação, sejam judiciais ou extrajudiciais,
é garantir a manutenção da função social das
empresas desde que se demonstrem viáveis dos pontos de vista econômico e financeiro.
O magistrado elencou quatro
estratégias e riscos que um CFO deve conhecer
para poder se preparar previamente para um processo de recuperação
judicial:
- Fontes de financiamento –
- FIDC
- Credores (via plano de recuperação judicial)
- Alienação de ativos, UPIs (Unidades Produtivas Isoladas)
- Riscos do ajuizamento, a exemplo de uma possível convolação em falência por rejeição do plano em assembleia geral de credores;
- Estabelecimento claro e transparente de diretrizes de recuperação;
- Possibilidade de negociação coletiva (plano de recuperação judicial) quando não funciona mais a negociação individualmente.
O CFO da Cocelpa, Luiz Antonio Cavet, ressaltou a
necessidade de apresentação de um “fato novo” para que o mercado possa ver que
a empresa tem meios de se recuperar. Da mesma
forma, pontuou que a transparência frente a todos os agentes é fator
determinante para que o caixa possa se recompor.
O CFO apontou as três frentes que,
necessariamente, devem ser trabalhadas:
- Reestruturação
da empresa dentro do plano, com foco em ações para geração de caixa;
- Tesouraria: foco em
encontrar funding (criando credibilidade);
- Prova
da viabilidade econômico-financeira da
empresa e que (qual?) plano é factível para o mercado.
Fábio Mazzini falou sobre a sua
experiência com a recuperação judicial da Mangels, já levantada, e ainda em
fase de cumprimento do plano aprovado.
Salientou
que, na sua experiência, o “fato novo” foi a criação do time interno de reestruturação,
não utilizando consultoria ou empresas especializadas,
sendo transparência a palavra de ordem (termo comum
em todas as falas).
O time de reestruturação da
empresa atuou em duas frentes – negociação e reestruturação – trabalhando com
sete pilares:
- Estabilização
da crise, implantando controles rígidos, redução de custos e mudando a
mentalidade de toda a empresa;
- Liderança,
substituição de executivos;
- Transparência
e comunicação, visitas e conversas para restabelecer
o elo com o mercado;
- Foco
estratégico, quais produtos manter e quais investimentos fazer – 1ª fase: O que é necessário somente para sobrevivência;
2ª fase: investimento preventivo; 3ª fase: investimento em atualização;
- Mudança
organizacional, gestão mais horizontal;
- Melhoria
dos processos críticos: Onde otimizar e
melhorar o processo?
- Reestruturação
financeira, minimizando capital de giro e trabalhando com o lema: “Caixa é o rei”. Tudo
na ponta do lápis, gestão de caixa diária, o que pagar e não pagar.
O vice-presidente
da Taipa FIDC, Tiago Schuelter, finalizou o evento trazendo o seu entendimento pontuando que o momento mais difícil para uma
empresa em recuperação judicial é o começo do processo.
Explicou que essa dificuldade
provém da sensação, pelo mercado, de eventual “calote”.
Alinhado com os demais
debatedores, destacou que o mais importante
é que a empresa em recuperação judicial demonstre a geração de resultados e de possibilidade de continuidade.
Novamente a palavra transparência foi trazida ao debate como
uma forma de angariar a confiança dos stakeholders.
Schuelter
trouxe sua perspectiva como fomentador de empresas e, na mesma linha do Dr. Daniel Carnio Costa, apresentou
as seguintes soluções para financiamento:
- Venda
de ativos, prática e segura (sem sucessão)
- Operação
com fundos de investimento
Na sua fala, mencionou que cada
caso deve ser analisado de acordo com a sua realidade, afinal, a situação de
cada recuperanda é sempre peculiar. Sua análise passa pelas demonstrações financeiras
e também pelo balanço como sendo um retrovisor das operações passadas, contudo,
sem demonstrar as perspectivas para o futuro.
Na sua visão, o determinante para
disponibilizar ou não um fomento é analisar quais são as perspectivas futuras
para determinada empresa, ou seja, em qual mercado
está inserida, qual posição de mercado ocupa e quais diferenciais tem a
oferecer.
As falas dos debatedores que
tiveram as mais variadas experiências apresentaram
um ponto basilar de convergência, qual seja, a necessidade de transparência na
condução dos processos de recuperação judicial.
Além disso, em que pese o objetivo primordial, seja a manutenção das atividades da empresa e consequentemente a sua função social, ficou muito claro nas falas dos debatedores que o processo de recuperação judicial, por si só, não é uma solução se não estiver alinhado com um trabalho profundo de reestruturação bem planejado e executado.
Caso tenha interesse, assista ao evento na íntegra pelo canal do IBEF-PR no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=83lx625jMU4
Por Fernando Balotin e Luciana
Kishino