Fatores de risco inflacionário

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), na última reunião, em aumentar a taxa básica de juros da economia de 2,75% para 3,50% está alinhada com as estimativas de mercado e dentro de um cronograma de normalização da política monetária com o atual processo inflacionário. Ou seja, um movimento correto e necessário para sinalizar o compromisso do Banco Central (BC) com a estabilidade de preços. É claro que o aumento dos juros não é desejado, ainda mais em um período de recuperação de nossa economia. Contudo, a inflação mais alta e persistente prejudica a renda do trabalhador e a capacidade produtiva ao longo do tempo. Será pior para a economia como um todo.

Em linhas gerais, podemos destacar três fatores de riscos inflacionários. O primeiro deles é mundial. A forte recuperação das economias desenvolvidas alinhadas com expansões fiscais e monetárias sem precedentes, alimentam a forte demanda internacional por grãos, proteínas, celulose, minérios, puxando os preços internacionais dos insumos básicos. Por exemplo, nos EUA, onde a vacinação está avançando rapidamente, os preços no setor manufatureiro do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) aumentaram 37% entre dezembro de 2020 e maio de 2021, indicando um maior risco para a inflação. Mesmo com um mercado de trabalho ocioso, esse risco no curto prazo poderá pressionar os juros internacionais para cima, dificultando o controle de preços doméstico.

O segundo fator refere-se à evolução das finanças públicas. Em recente Relatório de Inflação (março), o BC projeta um cenário alternativo de maior risco fiscal, com deterioração das contas públicas e dificuldade no avanço das reformas. Utilizou como referência a recente crise fiscal iniciada em 2014, a qual gerou uma maior percepção internacional de default nas principais agências de risco. Com efeito, a economia brasileira apresentou uma depreciação cambial, contribuindo para a elevação dos preços domésticos.

A Autoridade Monetária apresenta um cenário de inflação preocupante decorrente do aumento do risco fiscal. O descolamento das projeções inicia no quarto trimestre de 2021 e atinge um ápice no terceiro trimestre de 2022, com uma inflação de 5,7% para este ano e 5,9% para o próximo. O mais importante desse exercício é esclarecer que a deterioração das contas públicas afetará a dinâmica de médio e longo prazos da inflação, contaminando as expectativas dos agentes de mercado.

Por último, o risco da inflação inercial se intensifica com o aumento das expectativas de inflação, reportadas no Relatório Focus. Os analistas esperam um IPCA para 2021 em cerca de 5,2%, isto é, no limite superior à meta de inflação. Para 2022, o mercado espera uma inflação um pouco acima da meta de 3,50%. Alguns fatores recentes estão alimentando a alta nas expectativas. As condições climáticas de maior estiagem aumentam as projeções de preços de energia e alimentação. Alguns analistas estão considerando bandeira tarifária vermelha 1 para dezembro; e revisão para cima em suas projeções de alimentação no domicílio, com aumento nos preços de grãos e cereais – componentes relevantes na composição do IPCA.

Com isso, os maiores riscos inflacionários mundiais e nacionais prescrevem uma atuação mais conservadora do Copom, o qual tem como objetivo principal manter as expectativas de inflação de curto e médio prazos do mercado ancoradas às metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Reforço que, com inflação sob controle e reformas importantes do estado brasileiro, teremos uma capacidade de crescimento de longo prazo mais vigorosa em nossa economia.

*Lucas Lautert Dezordi, é doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria, economista-chefe da TM3 Capital e professor da Universidade Positivo.

*Artigo publicado na Gazeta do Povo em 10/05/2021

Panorama e perspectivas no setor de Shopping Centers

A Associação Brasileira de Shopping Centers projeta um crescimento de 9,5% para 2021

Talvez um dos setores mais atingidos pelas restrições impostas para conter a disseminação da Covid-19 seja o dos shopping centers. Essa atividade, que dependia quase que exclusivamente do fluxo de pessoas que visitavam seus corredores diariamente, viu todas as operações do país suspenderem as atividades em abril de 2020, sendo o mês mais impactado pelo coronavírus, até então, com queda de faturamento em 89% – conforme dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) – quando comparado com o mesmo mês do ano anterior.

Segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), as visitas mensais aos shopping centers caíram de 502 milhões de pessoas em 2019 para 341 milhões no ano passado representando uma queda de 32%. Outros estudos também confirmam essa redução, como o Índice de Performance do Varejo (IPV), realizado pela FX Data Intelligence, o qual demonstra que, em 2020, a frequência de pessoas ficou 27,71% menor que em 2019. O IPV ainda traz dados referentes a lojas de ruas, em que a queda foi de apenas 2%, evidenciando que os efeitos mais duros foram sofridos pelos shoppings.

O tempo de permanência dentro dos centros de compras também foi reduzido, de uma hora e meia, em 2019, para uma média de 30 minutos ao longo de 2020, segundo pesquisa da Alshop. Esse dado vai ao encontro da percepção da Abrasce quanto a uma mudança de comportamento, em razão do medo da contaminação pelo coronavírus, que fez com que os visitantes passassem a ir com menos frequência aos shoppings tornando suas compras mais assertivas. A queda de circulação teve reflexo direto na receita nominal do setor que, de acordo com a Abrasce, registrou, em 2020, um faturamento de R$ 128,8 bilhões, uma queda de 33,2% em relação a 2019, quando o faturamento foi de R$ 192,8 bilhões.

Com o espaço físico sofrendo restrições de circulação, foram observadas nos players do mercado diversas ações, como redução dos custos condominiais e flexibilização das condições para faturamento de aluguéis, para amenizar o impacto que os lojistas tiveram e continuam tendo. Muitos desses lojistas também necessitaram buscar outros meios de receita, como o delivery e o drive-thru.

Segundo dados da Abrasce, no final de 2020 o número de empreendimentos com aplicativos já correspondia a 41%, demonstrando a já conhecida tendência de aceleração digital provocada pela pandemia (de diversos estudos, podemos citar o Análise do Comportamento de Consumo, publicado pelo Itaú em 9 de fevereiro de 2021; este relata que as compras digitais chegaram a crescer 29% no ano passado). Além dos lojistas, os shoppings buscaram desenvolver seus próprios marketplaces, sendo que, em 2020, 29% deles já operacionalizavam por esse canal, ante apenas 11% em 2019. A pesquisa ainda afirma que 59% dos shoppings pretendem implementar uma plataforma de marketplace nos próximos dois anos.

Apesar do impacto financeiro, sete shoppings foram inaugurados em 2020, somando-se aos 594 já em operação. O número de lojas também cresceu e chegou a 110 mil, uma alta de 5% na comparação com 2019. Houve, ainda, um crescimento de 2,8% no número de salas de cinemas, totalizando 2.982 unidades. Já a vacância ficou em 9,3% em 2020, contra 4,7% no ano anterior. No total, 7% dos shoppings passaram por algum tipo de expansão. Para os próximos anos, 26% dos empreendimentos pretendem expandir – número expressivo se considerarmos que, em 2019, apenas 10% dos shoppings tinham planos de ampliação.

Para 2021, está prevista a inauguração de 13 shoppings que, juntos, somam uma ABL de 278.227 m². O destaque fica por conta do Estado do Paraná que conta com quatro lançamentos e 127.200 m² de ABL, colocando o estado na 4ª posição em se tratando de ABL – ficando atrás apenas de São Paulo (1ª), Rio de Janeiro (2ª) e Minas Gerais (3ª).

Para 2021, a Abrasce projeta um crescimento de 9,5% baseado no cenário atual. A instituição acredita que a imunização da população é fundamental para a recuperação econômica. Em vista disso, a associação enviou uma carta aos prefeitos dos 222 municípios, onde há shoppings no Brasil, e aos governadores, colocando o setor à disposição para auxiliar no processo de vacinação da população. 

Valuup aprova Plano de Recuperação Judicial do Hospital XV e do Instituto de Medicina do Paraná

No último dia 13 de abril de 2021, nós, da Valuup, conseguimos aprovação do Plano de Recuperação Judicial do Hospital XV e do Instituto de Medicina do Paraná, com 72,44% dos credores presentes e 77,51% do total dos créditos presentes, e com percentuais por classificação legal conforme gráficos a seguir:

A Recuperação Judicial (RJ) dos hospitais foi solicitada e deferida no final de agosto de 2019. A Valuup foi contratada, no início de 2020, por indicação do parceiro jurídico que assumia o caso, a AFI – Advocacia Felippe e Isfer.

A RJ contava, em sua consolidação, com 588 credores, distribuídos em três classes legais: 66% credores trabalhistas, 16% credores quirografários (“que não de regalias ou prioridades em relação aos outros”) e 17% credores micro ou pequena empresa. 

Como forte característica do negócio, intensivo em mão de obra, foi necessária uma forte negociação com os credores trabalhistas que estavam pulverizados em diversos advogados e representes legais. Juntos, os credores trabalhistas totalizavam mais de 16 milhões de reais.

As demais classes totalizavam mais de 9 milhões de reais, sendo 7 milhões credores quirografários e 2 milhões credores micro e pequena empresa.

O plano aprovado reperfilou 25 milhões de reais em dívidas sujeitas, com deságios que chegam a 50% do valor original, com até 24 meses de carência e mais de sete anos para pagamento de principal e juros.

As criptomoedas são ativos intangíveis?

Como devem ser registradas e amortizadas as criptomoedas

Vem se tornando cada vez mais comum o uso das criptomoedas entre as pessoas e, consequentemente, pelas empresas também. Este artigo foi inspirado na matéria publicada no Valor Econômico em 18/02/21. No texto de Muriel Waksman, advogada e sócia da Tognetti Advocacia, há alguns questionamentos que nos chamaram atenção:

  • Como funciona o registro contábil das criptomoedas no capital social de empresas?
  • Seria um ativo intangível?
  • Sofreria impairment?

O artigo aborda a integralização de capital de empresas por meio de criptomoedas. Conforme o Ofício-Circular SEI nº 4081/2020/ME, divulgado pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração (DREI), o reconhecimento de criptomoedas como forma de integralização de capital social é válido, e o ofício norteia as Juntas Comerciais de todo o país em favor dessa validade.  

Respondendo aos questionamentos da Dra. Muriel, do ponto de vista estritamente contábil, nosso entendimento é de que as criptomoedas devem ser classificadas como ativos intangíveis.

O reconhecimento de um ativo como intangível deve atender às seguintes características conforme preconizado pelo CPC-4 (Comitê de Pronunciamentos Contábeis):

1. Definição de ativo intangível

  • Ser não monetário
  • Ser identificável
  • Não possuir substância física

2. Critérios de reconhecimento

  • Provável geração de benefícios futuros
  • Custo mensurado com confiabilidade

A grande questão aqui é se há benefícios futuros. Por si só, uma criptomoeda não gera caixa futuro, no sentido amplo. No entanto, como meio de transações financeiras, poderia atender parcialmente a esse quesito. Quanto à mensuração, há cotações disponíveis em tempo real no mercado.

E as criptomoedas devem sofrer impairment? Bem, trata-se de um ativo intangível com vida útil indefinida. Por esse critério, uma empresa deve avaliar anualmente se há perda relevante do ativo; porém, esse tipo de ativo, de vida útil indefinida, não sofre impairment, sendo ajustado somente na liquidação do ativo.

Portanto, o registro inicial na integralização de capital segue o mesmo caminho dos demais ativos: lançamento de valor no capital social da empresa em contrapartida ao ativo intangível. A diferença oriunda do uso da criptomoeda, na sua liquidação, entendido como a diferença do valor aportado como integralização e o valor na data, assim como os demais ativos, serão levados ao resultado do exercício da empresa.

Vacinação e a atividade econômica no segundo semestre

No Brasil, março deste ano foi o pior mês da pandemia. Esta segunda onda (ou segundo pico), como está sendo chamada, vem superando em larga escala a fase inicial da doença em nosso país. Para uma base comparativa, durante a primeira onda, em junho de 2020, o número de óbitos estimado era de 1.000 pessoas por dia. Apenas em março de 2021, o país registrou mais de 66 mil óbitos, ou seja, uma média diária de aproximadamente 2,1 mil mortes. O número de casos ativos também aumentou, pressionando o sistema de saúde de vários estados. A lotação nos leitos de UTI de hospitais e a utilização das UPAs para atendimento de pacientes geraram a necessidade, nos governos estaduais e municipais, de decretar as bandeiras vermelha ou roxa. 

Com efeito direto, a maior restrição na circulação de pessoas impactou negativamente a atividade econômica, que continuará fraca durante este primeiro semestre de 2021. Contudo, o país avançou na campanha de imunização. Estima-se que, só em março, 11,7 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina. Com o avanço da vacinação e consequente imunização da população brasileira, o retorno da mobilidade social terá impacto positivo sobre nossa economia, principalmente a partir do segundo semestre.

O gráfico a seguir descreve o avanço diário da doença no Brasil desde seu início em fevereiro de 2020. A transmissão da Covid-19 segue a mesma sazonalidade de outras doenças respiratórias, como a H1N1 e a gripe Influenza. Durante o início do outono e fim do inverno de 2020, o número de óbitos manteve-se elevado – cerca de 900 a 1.000 mortes diárias. A média móvel (sete dias) de novos casos diários chegou a ser de 45 mil. Esses números começaram a ser reduzidos com mais intensidade a partir de setembro, diminuindo para cerca de 500 o número de óbitos diários.

Gráfico 1 – Novos óbitos e média móvel da Covid-19 no Brasil 

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

O avanço da Covid-19 no Brasil teve seu pico no mês de março de 2021. Os novos casos passaram de uma média móvel (sete dias) diária de 45 mil, em fevereiro, para 77 mil em março, pressionando o sistema de saúde público e privado. Como consequência, vários estados e municípios decretaram as bandeiras vermelha e roxa. A mobilidade social foi severamente restringida. Serviços e atividades não essenciais foram fechados ou tiveram sua atuação bastante restrita. Por isso, esperamos uma atividade econômica mais fraca durante o primeiro semestre.

Destaca-se que, no dia 31 de março, o país registrou o recorde de óbitos diários (3,9 mil), foi o pico. Felizmente, a média móvel (sete dias) está em queda em abril. O sistema de saúde permanece extremamente pressionado, mas algumas cidades e estados estão começando a adotar a bandeira laranja, possibilitando, assim, uma maior mobilidade da população. O país enfrentará, nos próximos meses, o período de outono e inverno, estações de maior incidência de gripes e doenças respiratórias e, por isso, o avanço em massa da campanha de vacinação é a maior prioridade no combate à evolução da doença.

O gráfico a seguir destaca que março também foi o mês de maior número de pessoas vacinadas. Mais de 26 milhões de pessoas receberam a primeira dose, representando aproximadamente) 12,3% da população total do Brasil. Em média, o país aplicou cerca de 360 mil doses por dia e, desde janeiro, em torno de  285 mil por dia.

Gráfico 2 – Vacinação da Covid-19 no Brasil

Fontes: Twitter: @coronavirusbra1 e @covid19BrBot.

Tivemos notícias positivas nos últimos dias: o Ministério da Saúde anunciou a compra de 138 milhões de doses das vacinas contra Covid-19. Pelos contratos, serão 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões de doses da Janssen, da Johnson & Johnson. A vacina da Janssen é aplicada em dose única e, no cronograma, está prevista a entrega de 16,8 milhões de doses até setembro e 21,1 milhões entre outubro e dezembro deste ano. A Pfizer pretende entregar o primeiro lote de 1 milhão de doses em abril, 2,5 milhões em maio, 10 milhões em junho, 10 milhões em julho, 30 milhões em agosto e 46,5 milhões em setembro. 

Desde 25 de março, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem recebendo remessa de insumos da China para a fabricação de 12 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. O último lote será entregue no início de abril e o material será processado em Bio-Manguinhos, na Fiocruz. O mais importante é que, a partir do segundo semestre, com a incorporação da tecnologia do IFA, a Fiocruz prevê entregar mais 110 milhões de doses.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem contratado, com diferentes laboratórios, o recebimento de cerca de 562 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até o fim de 2021. A entrega da grande maioria das vacinas está prevista para o segundo semestre como também a sua aplicação. Se o Brasil avançar de modo eficaz na campanha de vacinação, a mobilidade social será mais flexível e a economia terá um impulso de retomada da atividade produtiva, em especial do setor de serviços.

Efeito COVID-19 sobre as receitas e lucro operacional das empresas

Quais os setores mais afetados mundialmente?

Aswath Damodaran, professor da Stern School of Business at New York University, publicou recentemente em seu site um estudo do efeito da pandemia COVID-19 no mundo dos negócios. Os dados se referem ao ano de 2020. Tal estudo envolve a análise de mais de 40 mil empresas de capital aberto, dos mais diferentes setores, em todo o mundo.

O resultado demonstrou que as empresas (exceto empresas financeiras e bancos) tiveram um resultado geral praticamente nulo em 2020. Entre 2019 e 2020, a receita de todas as empresas listadas em bolsas de valores no mundo cresceu 0,33% enquanto o lucro operacional caiu -3,03%.

Quando analisamos somente a queda da receita, observamos que a maior ocorreu para a indústria de transporte aéreo e hotéis, conforme os números abaixo:

Os setores que mais cresceram em receita foram:

Quando avaliamos as quedas de lucro operacional, a maior delas está no setor de óleo e gás, seguido pelo setor de hotéis:

Os maiores ganhos de lucros operacionais foram do setor de metais preciosos e, em segundo lugar, da agroindústria:

Analisando, de maneira bastante ampla, temos que os setores que mais sofreram, ao longo de 2020, foram os setores de hotéis, aviação e óleo e gás. Por outro lado, os mais beneficiados foram os de metais preciosos, varejo (online e material de construção) e agricultura.

O senso econômico comum já poderia prever quedas expressivas no setor de hotelaria e aviação, mas talvez não em óleo e gás. Verificando os setores que mais ganharam, uma vez mais já eram de conhecimento os ganhos das vendas on-line e itens para a casa; porém, o setor que mais cresceu foi o de metais preciosos, talvez por representar um porto seguro em último estágio.

M&A – 1º trimestre faz ano de 2021 começar com recordes

Primeiro trimestre do ano começa aquecido, com uma movimentação entre 1,1 e 1,3 trilhão de dólares

Como já esperado, após um ano de incertezas o mercado de fusões e aquisições começou 2021 a todo vapor. Conforme a Bloomberg, foi movimentado o valor de 1,1 trilhão de dólares e, segundo a consultoria Refinit, 1,3 trilhão de dólares. Se considerarmos as informações da Refinit, os números consolidam o começo do ano como o melhor desde 1980. Já com as informações da Boomberg, seria o melhor começo de ano desde 1998. O fato é que o ano de 2021 começa promissor para o mercado de fusões e aquisições.

Importante destacar também a representação das SPACs nesses valores – como já comentado no artigo M&A e as SPACs. Nos EUA, mais de 25% das operações no primeiro trimestre tiveram origem nessa modalidade que não para de crescer.

Se lá fora o movimento de crescimento das SPACs já está consolidado, no Brasil essa novidade está começando ainda a criar corpo; porém, de maneira um pouco diferente. Devido às limitações regulatórias (necessidade de três anos de balanço auditado e/ou um estudo de viabilidade econômica para se fazer um IPO), não é possível se criar uma SPAC no Brasil. A solução encontrada foi a criação de SPACs listadas na bolsa americana, com o intuito de direcionar os recursos para empreendimentos brasileiros. A HPX foi a primeira SPAC brasileira, levantando 220 milhões de dólares na Bolsa de Nova York (Nyse). Logo depois vieram a Itiquira, Alpha Capital, Softbank e Waldencast que, juntas, pretendem levantar 1,1 bilhão de reais em ativos no País.

CEOs demonstram otimismo em relação à economia em pesquisa

Apesar de extremamente preocupados com incertezas políticas e tributárias, os CEOs estão otimistas em relação ao futuro da empresa e da economia

A PwC anualmente promove uma pesquisa com CEOs no Brasil e no mundo, sendo divulgada em março de 2021 sua 24ª edição. É bastante curioso saber a visão desses líderes após 1 ano de pandemia, e a conclusão foi que o brasileiro é um otimista por natureza.

Isso porque 85% dos CEOs brasileiros apresentam um altíssimo nível de confiança na melhora da economia global em 12 meses, sendo o maior patamar dos últimos 10 anos. Tal otimismo se estende para dentro das empresas, onde 67% confiam em um crescimento da organização em 3 anos, o que contrasta com os demais CEOs do mundo em que apenas 47% destes acreditam em um crescimento em 3 anos.

O otimismo dos CEOs, segundo a pesquisa, gera 3 reflexos:

1º) Contratações: 48% estimam um aumento moderado (3 – 9%) nas contratações nos próximos 12 meses. Já 14% estimam um aumento forte (10% ou mais).

2º) Foco: mesmo em menor magnitude do que no ano passado, os três focos dos líderes das empresas continuam sendo eficiência operacional, crescimento orgânico e lançamento de produtos ou serviços, como estratégia para 2021. Todos com foco interno para o cliente. 

O aspecto de mercado, como alianças estratégicas, parcerias ou venda de uma empresa, perdeu força de 2020 para 2021.

3º) Incertezas: 56% dos CEOs têm alto nível de preocupação com as incertezas tributárias, incertezas de pandemias e crises sanitárias (56%), também em relação a políticas (53%), ao aumento das obrigações tributárias (51%), ao crescimento econômico incerto (49%).

Quando se perguntou quanto ao “nível de preocupação com ameaças comerciais, econômicas, políticas, sociais e ambientais para o crescimento da empresa”, apareceram no top 5, exposto no gráfico anterior, a temores e incertezas políticas – enquanto no mundo, pautas como ameaças cibernéticas ganham força.

A partir de todo receio quanto à questão tributária e política no Brasil, quando se questionou sobre o “efeito das mudanças na política tributária para lidar com o aumento da dívida governamental”, chegou-se ao seguinte: 

87% dos CEOs concordam ou concordam plenamente com a afirmação: “Levarão minha empresa a repensar sua estrutura de custos.” Além disso, 73% concordam ou concordam plenamente com a afirmação: “Aumentarão a obrigação tributária total da minha empresa”. Ou seja, os líderes esperam fortemente que as incertezas e inseguranças políticas levem a um impacto no aumento das obrigações tributárias e, consequentemente, na necessidade Ou, as inseguranças políticas “levam à necessidade” da revisão do planejamento e da estrutura de custos.  

O dualismo encontrado na pesquisa é que, apesar de toda incerteza e temor político e econômico, os CEOs são otimistas quanto ao futuro da empresa e da economia, o que nos leva a crer que todo ceticismo é deixado de lado, e o empresário brasileiro é, de fato, um otimista por natureza.

Fonte: https://www.pwc.com.br/ceosurvey

Múltiplos no setor hospitalar: quanto vale um leito?

Transações comparáveis podem ajudar na avaliação de ativos.

Os múltiplos são indicadores padronizados dos valores das empresas. São utilizados para avaliar a empresa por meio de outras comparáveis e para identificar companhias subavaliadas ou superavaliadas. Trata-se de um método bastante prático e rápido, porém pode esconder algumas armadilhas.

Cabe destacar que, só podemos comparar o valor de uma empresa (Valor da Firma ou Firm Value), antes do efeito da dívida, com indicadores operacionais como: EBITDA, EBIT ou mesmo o faturamento. Por outro lado, o valor remanescente para os sócios (Valor dos Sócios ou Equity Value) deve ser comparado com indicadores que reflitam a posição societária, tais como: preço ou valor da cota por PL (Patrimônio Líquido), preço sobre lucro líquido ou preço sobre fluxo de caixa do acionista.

Outro múltiplo bastante utilizado refere-se a variáveis específicas de um determinado setor: o setor de educação utiliza o valor por aluno em graduação; o setor de geração de energia utiliza valor por MWh; e o setor hospitalar toma como base o valor do leito.

Vantagens:

  • Simplicidade
  •  Rapidez na precificação
  •  Necessidade de poucas informações

Desvantagens:

  • Diferença nos fundamentos das empresas comparáveis
  • Qualidade das informações financeiras
  • Especificidades de cada transação (empresa, linha de negócio, carteira de clientes, ativos imobilizados, etc.)
  • Efeito manada (todo o setor pode estar superavaliado ou subavaliado)

O levantamento feito pela XVI Finance (ver site: https://xvifinance.com.br/qual-valor-de-um-hospital/) analisou 23 operações de compra de hospitais no período de 2015/2020. O valor médio do leito hospitalar, sem considerar a inflação do período, foi de R$ 1.184 mil por leito.

Fonte:
https://xvifinance.com.br/qual-valor-de-um-hospital/
http://cnes2.datasus.gov.br/

A partir da tabela acima, propusemos uma análise de regressão para compreender se o valor de um hospital é influenciado pelo número de leitos de UTI. Como resultado, obtivemos a seguinte equação:

Regressão Simples: lnY= α+ βlnUTI

  • Valor leito = lnY=6,01828+0,256990 lnUTI

Nossos estudos demonstraram que 10% a mais de UTIs em um hospital representa um acréscimo do valor do leito de 2,5%. Aplicando a fórmula, com por exemplo 30 UTIs, obtivemos um valor de R$ 984 mil por leito no período analisado.

Portanto, neste exemplo, ao multiplicarmos o valor de R$ 984 mil pelo número de leitos do hospital, teremos o valor do hospital por meio de análise de transações comparáveis. Esse setor vem sofrendo forte consolidação ao longo dos últimos anos.

O Preço da Gasolina

Quando me perguntam sobre os parâmetros que realmente afetam o preço da gasolina ao longo do tempo, tenho a resposta direta: taxa de câmbio. Isso mesmo! A taxa de câmbio (R$/US$) é a nossa principal referência para o valor que o consumidor brasileiro paga nas bombas. Mas qual é a relação, então? Como referência, 1 litro de gasolina nos postos de combustíveis, nas principais capitais do Brasil, é de aproximadamente 90% a 110% sobre o valor da taxa câmbio em relação à USD 1 dólar norte-americano. Se o barril do petróleo estiver abaixo de US$ 50, a relação 90% fica mais evidente. Se o preço do barril estiver acima desse valor, então 110% torna-se o parâmetro de referência.

Exemplos para nossa análise:

Entre os meses de agosto e dezembro de 2015, com o preço do barril a cerca de US$ 45,00, a taxa de câmbio média foi de R$ 3,72 por dólar. Nesse mesmo período, segundo a ANP, o preço médio do litro da gasolina em Curitiba foi de R$ 3,35. Dividindo 3,35/3,72, resulta que o preço médio da gasolina ficou cerca de 90% do valor do dólar.

Analisando essa relação em nível nacional, tem-se que, durante o primeiro semestre de 2019, com o preço do barril a US$ 60,00 e com a nova política de preços da Petrobras, o preço médio da gasolina no Brasil ficou em R$ 4,32, e a taxa de câmbio em R$ 3,88 – uma relação de 110%, calculada pela divisão da gasolina sobre o dólar (4,32/3,88).

Então, o que devemos esperar para este ano de 2021 quanto à dinâmica de preços da gasolina?

Mantendo a política internacional de reajuste de preços e o barril de petróleo sendo negociado a US$ 60,00, devemos esperar novos aumentos no preço da gasolina. Nossa taxa de câmbio esperada e observada está em torno de R$ 5,10 e, utilizando um fator de 110%, o preço da gasolina de equilíbrio de longo prazo será então de R$ 5,610.