O lucro da Petrobras é bom? Depende

O lucro anunciado pela Petrobras no segundo trimestre do ano nos leva a uma reflexão mais sociológica que econômica. Do ponto de vista empresarial, das decisões de gestão, podemos dizer que a empresa está adotando uma estratégia focada no rápido restabelecimento de suas margens de lucro. Isso era de se esperar. Depois de toda a crise institucional, política, econômica e até policial que sofreu, o resultado positivo dá evidências de que estão arrumando a casa e buscam um caminho viável para sair do atoleiro. Mas quando se olha para situação do país, a pergunta é: a que custo?

A guinada começou em julho de 2017, com a mudança das políticas de preço praticadas pela petroleira. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizou que os valores dos combustíveis fossem reajustados diariamente, se necessário, considerando duas variáveis: o preço internacional do barril de petróleo e as variações cambiais. Com isso, a empresa atrelou sua receita ao dólar, criando uma situação favorável para sua arrecadação em períodos de forte valorização da moeda estrangeira, como observado neste segundo trimestre. A partir dessa política de reajuste de preços, a Petrobras ganhou mais fôlego para negociar suas dívidas bilionárias no mercado financeiro. O hedge (proteção) natural da receita em dólares foi fator relevante para a empresa reduzir seu nível de endividamento e apresentar indicadores econômico-financeiros mais saudáveis.

De julho de 2017 a junho de 2018, período no qual a Petrobras adotou sua política de preço de combustíveis, o barril do petróleo no mercado internacional subiu cerca de 50% e o dólar valorizou-se em aproximadamente 15%. As combinações desses dois movimentos fizeram com que a empresa repassasse esses reajustes aos consumidor final, em virtude de seu poder de mercado. O posicionamento dominante da Petrobras no refino de combustíveis possibilita que movimentos internacionais no preço do barril de petróleo seja repassado, praticamente de forma integral, às distribuidoras. Preços mais elevados da gasolina e do diesel ao consumidor final geraram impactos negativos na sociedade. Os gastos familiares nesses itens aumentaram expressivamente e as empresas e trabalhadores do ramo do transporte e dependentes do diesel tiveram suas margens reduzidas em uma economia extremamente fraca.

Foi nesse ambiente que, concomitantemente, a Petrobras iniciou um forte processo de recuperação de suas margens de lucro e a greve dos caminhoneiros teve início. Impossibilitados de repassarem os aumentos diários do diesel para os fretes de transporte, os caminhoneiros decidiram “cruzar os braços”. Com a paralisação do transporte rodoviário de cargas por duas semanas, nossa economia viveu um verdadeiro choque. Falta de combustíveis aos consumidores, escassez de matérias-primas para as indústrias, voos cancelados e alimentos perecíveis perdendo suas validades ilustram alguns exemplos das consequências que essa crise do setor de transporte gerou em nossa sociedade.

 

De onde vieram então os R$ 10 bilhões de lucro líquido da Petrobras, apenas no segundo trimestre de 2018? A origem desse excelente resultado deve-se ao fato de uma gestão mais eficiente, queda do endividamento, desinvestimentos em áreas menos lucrativas e, sobretudo, na nova política de preços. Entretanto, não podemos deixar de associá-la com o estopim da greve dos caminhoneiros e todos seus impactos na vida dos brasileiros.

A Petrobras prejudicou diretamente um de seus maiores clientes: o transporte de cargas rodoviárias. Era de se imaginar que a recuperação da empresa a qualquer custo traria consequências, ainda mais em um período de recuperação lenta da atividade econômica. O preço do diesel ficou insustentável e o setor parou o Brasil por duas semanas. Se olharmos por esse ângulo, percebemos que o caminho adotado deixou sequelas em nossa sociedade, as quais vão demorar para cicatrizar.

Lucas Lautert Dezordi é doutor em Economia, sócio da Valuup Consultoria e professor titular da Universidade Positivo (UP).
O artigo foi publicado no site da Gazeta do Povo 15/08/2018

Setor de serviços tem queda no Paraná

Os paranaenses estão com mais dificuldade em retomar o consumo, pelo menos é o que mostra os números do setor de serviço, divulgados pelo IBGE nesta semana.

O volume de serviços prestados no Paraná recuou 2,3% no primeiro semestre de 2018. O resultado é pior que a média nacional que ficou em -0,9%. Se olharmos apenas para o mês de junho a situação fica ainda pior, no Brasil houve crescimento de 0,9%, melhor resultado desde 2011, já o Paraná manteve os -2,3%, esse não é um bom sintoma.

O mercado de trabalho é diretamente influenciado pelo setor serviços, junto com o comércio, representam 60% do PIB brasileiro. Essa baixa significa que as pessoas ainda não possuem renda suficiente para gastos considerados extras, como é o caso de alimentação fora de casa e viagens de lazer.

Logo, esse nicho da economia sofre diretamente a retração, aí recomeça o ciclo do desemprego, que é um dos piores reflexos da crise.

Os números mostram também que a queda foi significativa na área de informações e comunicação, que recuaram 8,1%. Significa que as famílias diminuíram ou cortaram pacotes de TV a cabo e telefone, por exemplo.

Uma das atividades que contrabalanceou foi o resultado positivo do grupo dos transportes que teve alta de 2,4%. O segmento é representativo, pois a necessidade de deslocamento de produtos e agronegócio pelas estradas e porto, é um indicativo de movimentação econômica no estado.

O grupo de outros serviços, que inclui o ramo imobiliário, manutenção de veículos e equipamentos, atividades financeiras, entre outros, cresceu 6,3%.

As três fases da greve dos caminhoneiros

A paralisação dos transportadores de cargas rodoviárias por duas semanas está custando caro à economia brasileira. Aqui, não entramos no mérito da greve, que sim, teve fortes motivos para ser desencadeada, vamos falar apenas do cenário que ela estabeleceu no país.

A primeira delas foi a crise:  as duas semanas do mês de maio foram as que impactaram diretamente toda a sociedade. A economia foi surpreendida pela estagnação quase total da logística. E interromper esse fluxo significa que a produção não sai e não chega a lugar nenhum. Não demorou faltar combustíveis, alimentos perecíveis e insumos de todas as naturezas. Não precisamos nos alongar para explicar os danos uma vez que todos vivemos intensamente esse período.

A segunda fase foi o choque: classificamos o mês de junho como o primeiro abatimento pós greve. A sociedade percebeu que não bastava a liberação das estradas para que tudo fosse normalizado. Os alimentos continuaram com preços elevados e se criou um bastidor de prejuízos que ainda não poderiam ser dimensionados. Muito mais que apenas o tempo perdido, muitos produtos deixaram de ser produzidos e consequentemente deixaram de ser vendidos no mês de junho. Podemos dizer que junho foi o mês para olhar para a destruição deixada pela greve.

A terceira fase chamamos de impacto: a mais longa, entendemos que se estenderá até o mês de setembro. Até lá não será possível olhar para os resultados e índices econômicos sem considerar a paralisação de maio. Acreditamos que será o tempo necessário para que a economia se desvencilhe dos efeitos pós greve. Neste período a produção será normalizada, os insumos deverão voltar aos preços de equilíbrio e será possível ter um cenário econômico menos atribulado.

Gráfico: A Greve dos caminhoneiros e seus impactos nos índices de preços IPCA e IGP-M

O preço dos combustíveis foi parar nas alturas, de quem é a culpa?

Em análise, a Valuup demostrou onde estavam e quais foram os impactos dos sucessíveis aumentos nos combustíveis.

Ainda há uma grande desinformação sobre os preços dos combustíveis, muitas pessoas ainda acreditam que os grandes vilões dessa história são os postos, isso não é verdade. Em estudo aprofundado a Valuup analisou as tomadas de decisões e ações que resultaram no descontrole dos preços do setor.

Os revendedores varejistas, que estão na ponta final desse processo, também pagam o preço alto das modificações nos preços no último ano. Na análise dos economistas da Valuup foi possível elencar três fatores que interferiram diretamente para a alta elevada desde julho do ano passado: aumento da carga tributária; mudança da política de preços da Petrobrás; e os repasses das distribuidoras.

O primeiro está relacionado diretamente às alíquotas de PIS e Cofins que tiveram aumento no segundo semestre de 2017, o resultado foi a elevação imediata de R$ 0,41 na gasolina. Com esse acréscimo, aumentou também o ICMS, uma vez que o imposto incide em 29% do preço médio. Quanto mais caro o combustível mais caro é o imposto. Hoje, 45% do valor que o consumidor paga na bomba, vai para os cofres públicos por meio de impostos.

A segunda ação que desencadeou sucessivos aumentos, também no início do segundo semestre do ano passado, foi a mudança da política de preços da Petrobras. A estatal passou a alterar os valores diariamente, baseados nos preços internacionais do barril de petróleo e na variação no preço do dólar.

O gráfico a seguir descreve as constantes mudanças de preços dos combustíveis praticados pela Petrobras às distribuidoras. Tendo como base 100, a data de 03/07/2017, a política de preços fez com a gasolina subisse 50% e o diesel 37%, no período analisado. O diesel só não subiu mais, em virtude dos termos do acordo entre os caminhoneiros e o governo.

Gráfico: Evolução nos Preços dos Combustíveis Pós-Política da Petrobras: 04/07/2017 a 15/08/2018.

 

Quais são as três grandes dúvidas no cálculo de valor da empresa

Quanto maior o lucro maior o valor da empresa? A marca interfere no valor? O terreno da empresa entra na conta? Essas são as questões mais debatidas quando o assunto é Valuation. Essa é a análise do economista e sócio da VALUUP, Luís Gustavo Budziak, que especialista na área, “ao longo de anos como consultor e professor de Valuation observei que algumas perguntas são bastante comuns e geram muita curiosidade e dúvidas.” Vamos ao que interessa, as respostas:

  • LUCRO: Quanto mais lucro tem uma empresa maior o valor dela?

Não necessariamente. Uma das metodologias para determinar o valor de uma empresa é a de fluxo de caixa descontado, ou suas derivações, como fluxo de dividendos entre outras. Porém todas elas partem do pressuposto que um fluxo será projetado e descontado por uma taxa de risco ao valor presente.

Na metodologia do fluxo de caixa o que importa é o “Caixa” da empresa, ou seja, o quanto ela consegue gerar de caixa para os sócios (não confundir com a conta “Caixa” do Balanço Patrimonial), e quanto maior for este valor de caixa mais valiosa ela será. Assim, o que importa é o caixa e não o lucro.

Podemos pressupor que uma empresa com altos lucros possa gerar altos valores de caixa. Mas uma empresa que tenha uma conta alta de depreciação, por exemplo, o que afeta o lucro, mas não o caixa, pode ter um valor maior do que outra que não tenha a mesma estrutura patrimonial.

  • MARCA: No cálculo do valor da empresa, como será calculada a marca?

Outra pergunta que é feita em 100% das aulas que eu ministro. Sempre explico que há, neste ponto, diferentes interpretações e algumas metodologias que calculam o valor de uma determinada marca, muitas delas recorrendo a percepção e pesquisa com consumidores. Do ponto de vista financeiro e do fluxo de caixa descontado o valor da marca já está representado dentro do próprio fluxo.

Uso como exemplo o cálculo do valor da empresa Coca-Cola e da XPO-Cola, aí da sua cidade. O primeiro todo mundo conhece e está disposto a pagar R$ 2,00 por refrigerante, enquanto que o segundo é vendido a R$ 1,00. Você acha que o fluxo de caixa, considerando o valor maior do refrigerante Coca-Cola, será maior na Coca ou na XPO, dado que estruturas de custos são semelhante? Claro que na Coca, assim a marca, que ajuda a vender mais e justifica preços maiores, contribui diretamente para a geração de caixa futura, estando já internalizada no fluxo.

  • ATIVOS NÃO OPERACIONAIS: O valor do terreno da empresa está dentro do fluxo de caixa?

Primeiramente é preciso saber se o terreno e os demais ativos da empresa são operacionais ou não. Ativo não operacionais não geram fluxo de caixa e, portanto, devem ser excluídos no momento da projeção e, ao final, ficarão com os sócios ou serão somados ao valor por meio de avaliação a valor de mercado.

Já o terreno operacional contribui para a geração de caixa, pois reduz a despesa com aluguel e edifícios geram depreciação. Ou seja, está dentro do valor projetado. Em algumas situações o imóvel é vendido separadamente, para outro interessado. Neste caso todo o efeito deve ser anulado e o valor calculado a preço de mercado.