Performance Econômica das Empresas da Construção Civil

Por: Fabio Furman e Luis Gustavo Budzuak

Observamos uma queda acentuada na venda de imóveis novos em todo o país. Somente na cidade de São Paulo a queda foi de 48% entre janeiro e agosto de 2015 se comparado com igual período de 2014, segundo o SECOVI (Sindicado da Habitação e Condomínio). Cabe perguntar como está a performance econômica das empresas da construção civil diante deste cenário de desaceleração e como seu resultado econômico foi impactado.

 

Para entender esse impacto, analisamos 17 empresas do setor da construção civil a partir de sua demonstração de resultado. Selecionamos os seguintes indicadores de performance econômica: EBIT (Earnings Before Interest and Taxes), índice que mede o resultado antes dos encargos financeiros e dos impostos; Margem Bruta, índice utilizado para medir o resultado bruto em relação à receita líquida; e, Margem líquida esse índice mede o percentual de lucro líquido sobre a receita líquida. Calculamos esses indicadores para os anos de 2010 a 2015, tendo como data de referência 30 de junho de cada ano.

As empresas escolhidas para nosso estudo foram: Helbor; Mills; PDG; CR2; João Fortes; Rossi; Viver; Direcional; Even; Eztec; Rodobensimb; Tecnisa; MRV; Cyrela; Gafisa; Trisul e Jhsf. Essas empresas foram escolhidas por terem seus dados econômicos e financeiros históricos disponíveis ao mercado (utilizamos o site Fundamentus).

Durante os cálculos observou-se que as empresas: CR2, João Fortes e Viver, apresentavam comportamento diferente das demais, com quedas muito bruscas em seus índices a partir do ano de 2012, como esse comportamento particular poderia distorcer a análise, as mesmas foram excluídas das análises (outliers).

Analisando o EBIT, observamos a empresa EZTec com o maior índice, 48,90%, em 2015, e o pior EBIT foi da PDG em 2012, -38,42%. Na Margem Líquida o melhor índice foi da EZTec, 58,83%, em 2015, e a pior foi da PDG, -42,45%, em 2012. No que diz respeito a margem bruta o melhor índice é o da Mills, 58,79%, em 2013, já o pior é da PDG, -19,35%, em 2012.

EVOLUÇÃO MÉDIA DOS ÍNDICES ANALISADOS

Foi também calculado a média para os três índices acima citados, no cálculo da média foram excluídas as empresas: CR2, João Fortes e Viver, pelo fato das mesmas provocarem grandes distorções em relação ao cálculo das médias.

O EBIT médio do setor de construção civil era de 22,3% em 2011, e atingiu 12,7% em 2012, retomando à 18,5% em 2014 e caindo à 11,1% em 2015, menor valor para o período analisado. Já em relação à Margem Bruta, em 2010, o índice era de 34,5%, reduzindo para 28,7% em 2012 e subindo para 33,2% em 2014 e finalmente 30,2% em 2015. E a Margem Líquida foi de 17,0%, em 2010, em 2012 foi de 8,7% e subiu em 2014 para13,1% caindo novamente em 2015 para 4,2%.

Observa-se no gráfico que, na média, há uma queda dos índices, EBIT, Margem líquida e Margem bruta, entre os anos de 2010 e 2012. Já em um segundo momento, no período 2012-2014 observa-se uma recuperação dos índices, retomando à patamares de 2010. Porém de 2014 a 2015 há uma queda brusca na média dos índices, EBIT e Margem líquida e uma queda menor na Margem Bruta.

 

Conclusão

 

Fazendo uma análise do setor a partir da média das empresas estudadas constatamos uma forte relação entre os três índices, uma vez que eles seguem tendências semelhantes.

A Margem Bruta foi o índice que sofreu o menor impacto no período recente, mantendo-se com patamar de 30% em 2015, superior ao ano de 2012.

Com relação ao EBIT, constatamos que há uma queda acelerada em 2015, chegando a 11,1%, metade do valor de 2010. Demonstrando que as empresas da construção civil não foram eficientes em cortar despesas operacionais no período.

Já a Margem líquida foi a que sofreu o maior impacto. Alcançando 4,2% em 2015, ou seja, menos do que a quarta parte do valor de 2010, que foi de 17,0%. Os juros e despesas financeiras, assim como os impostos, impactaram significativamente no resultado econômico das empresas da construção civil.

Constatamos que os índices de 30/06/2015 são os piores dos últimos cinco anos. Também se observou que o impacto é substancialmente maior na Margem líquida, seguida do EBIT e menos sensível à Margem bruta. O que representa que estas empresas apresentam menor eficiência nas suas despesas operacionais e na conta de juros.

Por: Fabio Furman e Luis Gustavo Budzuak

A alta do dólar e expectativas para a economia brasileira

Lucas Lautert Dezordi
Doutor em Economia e Sócio da Valuup Consultoria.

O mês de setembro foi marcado pelo rompimento da barreira de R$ 4,00 o preço do dólar. A última vez que a moeda estrangeira tinha registrado um valor tão elevado tinha sido no período 2002/03, durante a campanha eleitoral presidencial e a vitória do governo Lula para a Presidência. No primeiro mandato de Lula, os mercados foram estabilizados a partir de um forte ajuste fiscal, via superávit primário de 4,25% do PIB. Esses esforços em conjunto a uma política monetária contracionista conseguiram estabilizar a inflação e colocar novamente a economia brasileira em uma trajetória de crescimento sustentável, baseada na expansão do mercado doméstico.

Mas agora, o que podemos esperar de nossa economia?

 

alta-dolar-valuupNossa situação é muito mais delicada em virtude da forte instabilidade política, provocada pelas relações muitos conflituosas entre o Executivo (governo do PT) e o Legislativo (liderados pelo PMDB). Para ilustrar como esse ambiente hostil vem afetando a economia brasileira, desenvolvemos uma simples figura, destacando as inter-relações entre a política, o orçamento e os mercados.

tabela

Com a forte instabilidade política observada na esfera Federal, o Executivo não consegue aprovar medidas de redução do déficit público e sofre com as pautas-bombas apresentadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. É importante registrar que o orçamento público brasileiro está em frangalhos. Refrescando alguns números, temos que até 2013, o Brasil operava com um déficit público/PIB na ordem de 3,5%; em 2014 esse valor passou para 6,7%; e em 2015 estamos operando com um déficit na ordem de 7% do PIB. No dia 31 de agosto de 2015, quando o Executivo enviou ao Congresso um projeto de Lei Orçamentária para 2016 com uma projeção de déficit público de 8%, o mercado financeiro reagiu abruptamente: queda da nota de Investimento da S&P (aumento do risco país) e fortíssima pressão sobre o mercado de divisas.

O impacto imediato de um dólar mais forte e ultrapassando com folga a barreira dos R$4,00 é uma deterioração das expectativas inflacionárias. Uma economia com forte pressão inflacionária irá exigir o aumento nas taxas de juros de mercado (DI futuro), jogando a economia em uma severa recessão econômica. Infelizmente, estamos vivenciando uma situação de grande desequilíbrio orçamentário, com dominância fiscal. O pior de tudo é que os aumentos dos juros a partir desse estágio terão pouco ou nenhuma influência sobre a dinâmica inflacionária, a qual ganhou força e combustível oriundo do desequilíbrio fiscal. Essa situação é insustentável e perversa. Caso o setor público torne-se mais complacente com o déficit público/PIB crescente iremos ver no Brasil um colapso no mercado de crédito e uma recessão muito mais profunda, similar a observada nos países europeus durante a crise financeira internacional.

Neste sentido, torna-se fundamental o reestabelecimento das forças políticas do Executivo e Congresso para trabalharem em conjunto com o intuito de estabilizarem e reduzirem o déficit público cíclico o mais rápido possível. Não há mais tempo para brincar de política econômica, tornando-se um líder político irresponsável. O mercado não vai perdoar!